Estado do Amapá – A Cabanagem em Macapá

De todos os movimentos populares do período da Regência no Brasil, a Cabanagem no Pará foi o que alcançou maior grau de radicalização, seja pelas propostas de algumas de suas lideranças, seja pelo fato dos rebeldes terem se mantido no poder durante algum tempo e realizado profundas modificações políticas na região. Embora a Cabanagem propriamente dita tenha iniciado em 1833, situações anteriores já lhe preparavam o terreno. O poder no Pará, ainda antes da proclamação da Independência estava nas mãos de juntas favoráveis a Portugal, que protegiam os comerciantes lusos da região. Após o 7 de setembro de 1822, a luta eclodiu no Pará, uma vez que as juntas não reconheceram a Independência. Os liberais radicais encabeçados pelo cônego Batista Campos, e apoiados principalmente por comerciantes brasileiros, conseguiram, em janeiro de 1823, reunir número suficiente de pessoas para jurar a Constituição. Assim, Macapá e Mazagão Velho ratificaram, em 15 de agosto de 1823, a emancipação política do Brasil do jogo português, tendo os macapaenses e mazaganenses expulsado os vereadores do antigo Senado da Câmara que apoiavam D. João VI (já em Portugal), escolhendo desde então novos membros do Poder Legislativo das duas vilas (Jorge Hurley – A Cabanagem no Pará). Mas os militares portugueses dissolveram a Câmara de Belém e perseguiram os liberais que se refugiaram no interior, onde passaram a conspirar, ganhando apoio das populações locais. As vilas de Cametá, Santarém, Macapá, Mazagão, Monte Alegre e Vigia transformaram-se em verdadeiros núcleos de conspiração. A adesão das massas populares às propostas de Batista Campos constituíram o começo de um processo que iria ter seu ponto culminante mais de dez anos depois. Os núcleos de rebeldes assim constituídos isolaram a junta portuguesa, o que facilitou a tarefa do almirante Greenfell, enviado pelo imperador para impor um governo fiel. No entanto, deposta a junta, os rebeldes do interior exigiram a formação de um governo popular, sob a chefia de Batista Campos. Greenfell desencadeou feroz repressão, fuzilando muitas pessoas – ficou famoso o episódio em que trancou mais de duzentos suspeitos no porão de um navio e jogou cal sobre eles, provocando a morte de todos por asfixia. Em vista dos novos rumos que o movimento cabano tomou, como o da instalação de um governo desatrelado ao imperador Pedro I, este começou a ser sufocado pelas tropas fiéis ao regente do Brasil. Em abril de 1824 formou-se uma Junta Provisória do governo de Santarém, que imediatamente envia uma circular ao governo da vila de Macapá, dando instruções e procedimentos que deveriam ser observados a partir de agora, para o combate aos cabanos nessa região. Em 15 de maio do mesmo ano, novas orientações e informações foram enviadas da Junta Governativa de Santarém, ao comando da Praça de Macapá. Em agosto, Batista Campos em Cametá consegue promover uma agitação, que foi logo sufocada pelo presidente da Província nomeado por D. Pedro I, José de Araújo Rosa. No dia 26 de dezembro, vários regimentos se insurgiram no momento, que ficou conhecido por Dezembrada, mas foram logo dominados. Batista Campos e outros implicados foram presos, enviados ao Rio, julgados, mas absolvidos. O presidente da Província foi logo substituído e Batista Campos voltou ao Pará, passando a ter influência decisiva nos governos que sucederam a Rosa. A agitação liderada pior Batista Campos atrai a população pobre da capital e do interior, bem como outros líderes, cujas posições se radicalizavam, como Felix Antonio Clemente Malcher, os irmãos Vinagre e Eduardo Nogueira Angelim. Princípios de 1833. Batista Campos impediu a posse do novo presidente da Província, José Mariani, e em dezembro do mesmo ano a Regência nomeou Bernardo Lobo de Souza. É neste governo que se inicia a revolta propriamente dita dos cabanos. Partindo para uma política energética de repressão, Lobo de Souza prende muitos liberais (incluindo Malcher) e incorpora outros à força, ao exercício (como aconteceu com Angelim). Com base nas populações do interior, os irmãos Francisco Pedro e Antonio Vinagre prepararam a tomada de Belém, na noite de 6 para 7 de janeiro de 1835. O presidente da Província, Lobo de Souza, é executado, e Malcher, solto da prisão, assume o governo. Negociando com a Regência, Malcher provoca descontentamento com os irmãos Francisco e Pedro Vinagre, que exerciam o comando das Armas. Vinagre o depõe, mas comete o mesmo erro, negociando com o governo central, o que propiciou o desembarque e a posse do novo presidente nomeado: Manoel Jorge Rodrigues, que chega apoiado por uma esquadra composta de 600 homens, comandados pelo almirante inglês Taylor. Em Macapá Ao assumir o governo, Jorge Rodrigues trata logo de enviar reforços às cidades e vilas sob jurisdição do Pará. Em Macapá, durante a sessão da Câmara Municipal de 19 de abril, fica resolvido que uma subscrição pública fornecerá o dinheiro necessário à administração da vila, que se encontra sem dinheiro devido a Cabanagem. Como urgia preparar a vila para possíveis surpresas, no dia 23 de abriu formou-se uma comissão de cinco membros, a qual apresentou à Câmara de Macapá o plano de defesa da vila e do município contra os Cabanos. (Barata, Manuel – A Formação Histórica do Pará). Obrigados a recuar para o interior, Antonio Vinagre e Eduardo Angelim iniciaram a fase mais radical do movimento. Apoiados pelas populações locais, desencadearam uma estratégia de guerrilhas, que vai estrangulando o governo provincial. Em 14 de agosto, invadem Belém e após nove dias de sangrentos combates, retomam a capital. É instalado um governo popular e revolucionário, encabeçado por Angelim. Este governo, que contava com imenso apoio popular, coloca em prática medidas inspiradas pelo socialismo utópico, como a da expropriação e centralização de todo o comércio, incluindo o exterior. Além disso, proclamou uma República independente, separando o Pará do resto do país. A repercussão de Angelim e Vinagre começa a encontrar ressonâncias negativas entre os produtores e população ribeirinha. Em 27 de agosto de 1835, em Macapá reúnem-se autoridades civis, militares e a população em geral, deliberando resistir à tal empreita de Angelim. Em setembro de 1835, o general Francisco de Siqueira Monterozzo Mello da Silveira Vasconcellos, comandante da Praça de Macapá, envia uma circular às autoridades e fazendeiros macapaenses, dando instruções sobre o combate aos Cabanos que já pensavam em tomar Macapá. Tendo informações seguras de que na Ilha Vieirinha, três marés distantes da vila de Macapá, havia um ajuntamento crescente de cabanos, o major Monterozzo enviou em 17 de novembro uma expedição composta de 89 guardas, comandados pelo tenente de Guardas Nacionais de Macapá Manuel da Silva Golão e o alferes-ajudante da Praça Francisco Pereira de Brito (Hurley, Jorge – Traços Cabanos). Além de Vieirinha, outro grupo se aloja em 20 de novembro, em Ilha de Santana, e mais outro no Furo do Beija-Flor, frente à então vila de Mazagão. Nesse mesmo dia trava-se um violento combate, saindo vitoriosos os mazaganenses ao raiar do dia, sem que pudessem ter evitado a invasão de suas propriedades pelos cabanos. (Hurley, Jorge, Op. Cit.). Uma correspondência do major Monterozzo em 5 de setembro de 1835 relata o episódio ocorrido em Ilha Vieirinha, perto de Macapá. Uma oferta de várias embarcações de vários comerciantes famosos de Macapá, para o combate aos cabanos, reforça as tropas de Monterozzo. Em 2 de janeiro de 1836, chegam a Macapá 120 cametaenses para a luta contra os cabanos, sob o comando do capitão Joaquim Raimundo Furtado de Mendonça, por ordem do padre Prudêncio, comandante militar e chefe civil de Cametá. Em 12 de fevereiro, Monterozzo comunica a presença em Macapá, de norte-americanos tentando negociar a troca de produtos naturais da região por armamentos, que o barco americano trazia. A carga bélica foi transferida do navio para a Fortaleza de São José de Macapá. Em 28 de fevereiro sai de Macapá uma expedição militar chefiada por Raimundo Joaquim Pantoja (Pantojão) para atacar os cabanos que estavam em Breves, conforme noticia Hurley. Com o auxílio do alferes Francisco Pereira de Brito e soldados da Praça de Macapá, Pantojão consegue vence-los em Curuçá e Caju-Una, com mais armamentos. Pantoja parte para Breves em março de 1836. Em 17 de março chegam a Macapá as autoridades de Santarém que acabava de cair em mãos dos cabanos, entre eles o juiz de Direito da comarca de Tapajós, Joaquim Francisco de Souza. Em 29 de maio o alferes Brito consegue vencer os cabanos no Bailique. Em Belém, o movimento estava nos seus últimos dias. Em abril, poderosa força militar comandada pelo brigadeiro Francisco José de Souza Soares de Andréia ataca Belém, ocupando-a em 13 de maio. Os cabanos retiraram-se novamente para o interior, resistindo até 1840. Empossado no governo do Pará, Soares de Andréia começa a campanha pró-retomada. Do major Monterozzo, Andréia recebeu um relatório datado de 24 de maio, sobre a situação dos conflitos em Macapá. Em meio à euforia da Cabanagem, os franceses por sua vez não perderem tempo. Em 29 de agosto de 1836 o governador da Guiana Francesa, Laurens de Choise, comunica ao governador do Pará que, nos termos do Tratado de Amiens (cuja cláusula estipulava que os limites da França passariam a ser contados até o rio Araguari) resolvera ocupar a região do Amapá até o rio Araguari. Mas isso não passou do papel, pois na prática a região continuava a mesma, com a presença de pequenos conflitos isolados. Até o final desse ano, a corporação militar da vila de São José de Macapá, durante a luta da Cabanagem, estava constituída de seis capitães, seis tenentes, seis alferes, um sargento-ajudante, um sargento-quartel-mestre, um corneteiro-mor, 51 sargentos, 50 cabos e 315 soldados. Apesar das forças cabanas terem sido dizimadas em Belém e Vigia a partir de abril de 1836 por força do brigadeiro Soares de Andréia, alguns grupos organizados ainda insistiam em reagir contra o governo da Província. O próprio Soares de Andréia, na presidência da Província, comunicava a Lisboa, numa correspondência datada de 6 de outubro de 1837, que 200 cabanos oriundos da Ilha de Marajó com mais de 20 embarcações, nas ilhas em frente a Macapá, dispostos a fazer aliança com os franceses, o que representava um perigo para se reacenderem os conflitos de limite com aquele país. Em 1838, em ofício de 20 de janeiro, Soares de Andréia expõe, dessa vez ao ministro da Justiça, o modo como está fortificada a Província e a Praça de Macapá, cuja situação era precaríssima, precisando de muitos consertos, e seu comandante nada podendo fazer, pois até mesmo seus soldos militares estavam em risco de serem cortados, pela falta de verbas. Um dos episódios dignos de nota durante o período da Cabanagem no Amapá, foi o que envolveu o comandante Francisco Monterozzo (o nome todo dele era Francisco de Siqueira Monterozzo Mello de Silveira Vasconcellos). Após tantas expedições e planos de defesa organizados por este comandante militar natural de Cametá, sua bravura também encontrou opositores fortes e à altura. Alguns de seus oficiais subordinados, baseados em fatos meramente circunstanciais, passaram a acusa-lo de que estava favorecendo aos cabanos. Os fatos culminaram com uma sedição ocorrida em julho de 1839. Na noite de 9 para 10, alguns oficiais se rebelaram e depuseram o seu comandante, estipulando aí um comando alternativo. Mas tal comando só durou alguns dias. Por intervenção direta do governador Bernardo de Souza Franco, este fez partir imediatamente reforços, normalizando a situação.

Estado do Amapá – A estrada de ferro do Amapá

O manganês do Amapá foi descoberto em 1946, na Serra do Navio. O governo federal, após constatar a importância da jazida, declarou-a reserva nacional, através do decreto-lei nº 9.858, de 13 de setembro de 1946 (três anos após a criação do Território do Amapá), incumbindo a administração territorial de proceder ao imediato estudo do seu aproveitamento e autorizando-a a contratar uma entidade particular ou de economia mista para a exploração. Com base no mesmo decreto, o Conselho Nacional de Minas e Metalurgia procedeu concorrência pública para a exploração do minério. A Icomi, dentre três concorrentes, foi declarada vencedora.
As cláusulas contratuais que regeriam os direitos e obrigações relacionadas com o aproveitamento do manganês de Serra do Navio foram aprovadas pelo decreto federal nº 24.156 de 4 de dezembro de 1947 e revistas pelo de nº 28.162 de 31 de maio de 1950. O respectivo instrumento de revisão do contrato – escritura pública de 6 de junho de 1950 firmado entre o governo do Território do Amapá, na qualidade de delegado da União, e a Indústria e Comércio de Minérios (Icomi), foi registrado noTribunal de Contas da União, e ratificado pelo Congresso Nacional, pela Lei nº 1235 de 14 de novembro do mesmo ano.
Em 25 de fevereiro de 1953, o presidente da República, em despacho exarado em exposição do ministro da Fazenda, a propósito da obtenção de financiamento para a execução do projeto de aproveitamento das mencionadas jazidas, declarou-o economicamente vantajoso do ponto de vista nacional.
A 8 de junho do mesmo ano, em decorrência da tramitação do registro do contrato de concessão da Estrada de Ferro do Amapá, no Tribunal de Contas da União, pronunciou-se o Conselho de Segurança Nacional unanimemente favorável ao projeto, cuja execução seria iniciada em janeiro de 1954, inaugurando-se em janeiro de 1957, praticamente dez anos após os primeiros estudos e trabalhos realizados pela Icomi no Amapá, as instalações industriais que possibilitariam o escoamento do minério para os centros consumidores.

 

Half Medelin
Half Medelin, mexicano, naturalizado americano, foi um dos técnicos em construção de ferrovias que viajou juntamente com a primeira equipe de técnicos para iniciar a primeira e única estrada de ferro do Território. Half Medelin, que já ultrapassou os 70 anos de idade, lembra da grande arrancada da construção no coração da Amazônia. O Jornal do Dia já entrevistou Medelin em 1987. As declarações dele acerca dos bastidores da Estrada de Ferro do Amapá, nesta edição, são desta época.
“Sabíamos que era uma tarefa difícil de ser cumprida, muito embora todos dos técnicos já tivessem enfrentado outras experiências semelhantes na África, desertos e outras regiões inóspitas, como Panamá e Alaska. Além de técnicos americanos, foram trazidos engenheiros do Rio, São Paulo e de outras capitais. O maior problema que enfrentamos foi o calor. Suávamos o dia inteiro e cada um levava pro campo, acoplado em um isopor, refrigerantes e cervejas. Além do calor tinha o perigo da malária. Tínhamos que trabalhar na mata virgem. Apesar de ter um pouco mais de mil habitantes em todo o Território, sentimos bastante choque sócio-cultural. Vínhamos de uma outra cultura, outro idioma e isso criava uma barreira,mas que não chegava a ser tão preocupante quanto a malária. O que nos confortava e nos dava mais segurança é que a empresa sempre se preocupou com a saúde de funcionários e trouxe uma equipe médica, especializada em doenças tropicais e em qualquer emergência”, lembra Half, contando que a Foley Brothers, empresa responsável pela construção de ferrovias, selecionou uma equipe de profissionais especializados e tudo foi muito rápido.
A construção da ferrovia iniciou em março de 1954 e foi concluída em janeiro de 1957, quase três anos depois.

Primeiro Embarque
No dia 10 de janeiro de 1957, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek, saiu o primeiro carregamento de manganês no navio Areti-XS – Baltimore, que havia chegado no dia 9 e saiu no dia seguinte, levando 9.050,05 toneladas de manganês do Porto de Santana. Medelin explicou que simultaneamente à construção da ferrovia, outra equipe erguia os prédios administrativos, casa de hospedes, hospital, escola, instalação da mina e montagem do equipamento de mineração.
“Enfrentamos todas as dificuldades de um projeto pioneiro; mas se viemos para trabalhar e concluir a obra, tínhamos que vencer todos os desafios”, disse Medelin.
Ele contou ainda que eram armados acampamentos móveis que eram arrastados por uns talos, através de duas bigas ou trenós de aço.
“Foram três anos praticamente direto da mata. A meta era concluir o mais cedo possível o trabalho. Tinha dias que trabalhávamos até 14 horas direto, com intervalo apenas para refeição. Todo material e alimentação era importado. Chegava desde leite, frutas, até os alimentos mais básicos. Éramos aproximadamente 1.500 homens. Tínhamos que fazer um relatório diário sobre todos os acontecimentos, desde o mais banal até o mais grave. A empresa pediu os mínimos detalhes de todas as ocorrências e esse relatório era enviado quinzenalmente”, explicou Half Medelin.

Choque Cultural
Medelin lembra do período do carnaval: “Esta festa era nova para nós em termos de cultura de um povo. Éramos na maioria estrangeiros e os brasileiros disseram que neste período não iriam trabalhar durante os três dias. Pensamos que se tratava de uma greve. Fizemos relatório e foi um período de certa inquietação para nós. Depois fomos compreender que em todo o país os brasileiros não trabalham e nem passam por suas cabeças deixar o carnaval para ir trabalhar. Esse foi um dos choques culturais que tivemos”, relembra o pioneiro.
Foram três anos de trabalho e muitos fatos curiosos, diz ele, revivendo o primeiro acidente ocorrido na Estrada de Ferro. “Tinha o Crys, um americano louco que adorava correr quando estava conduzindo o trem. Às vezes ligava o automático e ia conversar noutro vagão. Pregava susto em todo mundo. Um dia aconteceu o choque no quilômetro 53 quando morreu o operador. Havia também o Billy Thomas, que usava sempre um chapéu tipo cow-boy. Ele gostava de tomar uns drinks e brigar. Era conhecido como o demolidor dos barzinhos. Era um sujeito até legal, mas quando tomava uns tragos ficava infernal. A maior tristeza desse período foi quando um amigo nosso sentiu uma dor horrível no estômago. Ele gritava muito e dizia, em voz de desespero: ‘Meu Deus, é melhor morrer’. Mesmo recebendo toda assistência médica de emergência, ele veio a falecer noutro dia. Seu corpo foi embalsamado e colocado num caixão galvanizado e o mandaram de volta a seu país”.

Cotidiano
Half Medelin disse que a partir da construção da ferrovia, várias comunidades começaram a surgir em função da existência do novo transporte. Ele conta que em 64 todos os americanos retornaram. Em 72 recebeu uma correspondência do assistente do diretor na época, Antonio Seara, e de outro diretor, Osvaldo Pessoa, convidando-o a retornar à Icomi. Na empresa ocupou os cargos de chefe da manutenção da Estrada de Ferro, chefe do Departamento, também da Estação Ferroviária, e chegou a superintendente.
A viagem de trem, nos seus 193,73 quilômetros, inda lembra o clima dos filmes de bang-bang: bandidos, mocinhos, cavalos e muita ação. Os passageiros começaram a chegar bem cedo na estação ferroviária em Santana para assegurar sua vaga. Redes, camas improvisadas e muita carga se misturam na madrugada. Colonos aproveitam para colocar em dias o papo; comerciantes fazem negócios e outros simplesmente contam “causos” ou vantagens.
Nos guichês as filas vão se formando. Ninguém quer perder a viagem. “Se a gente perde o trem, que custa apenas dois cruzados (1987) a passagem, temos que encarar um carro particular que nos cobram uma fortuna para fazer a mesma viagem”. Arrematou um colono, justificando a preocupação em chegar bem cedo na estação. Cigarros de palha, porroncas, cachimbos e uns goles de cana disfarçados ajudam a matar o tempo e o sono. Antes do trem apitar, todos já estão agasalhados em suas cadeiras. Existiam, pelo menos até o momento em que foi feita esta matéria, seis carros de passageiros, sendo que um era reservado à administração da empresa.
O trem partia de Santana às 7 horas e retornava às 14 horas de Serra do Navio todas as segundas, terças e quintas-feiras. Na sexta, para facilitar o retorno dos colonos que desciam na quinta, a saída foi alterada para as 12h30. Além disso, eram três vagões de minérios por dia, que transportavam anualmente até 1,6 milhão de toneladas de manganês.
“Os trens que transportavam minérios atendiam a inúmeros pedidos de urgência dos colonos. Bastava que eles sinalizassem com uma lanterna ou outro sinal, que o maquinista parava. Além disso, tivemos uma ambulância rodo-ferroviária para atender a casos de emergência. Ao todo, eram 109 vagões utilizados para o transporte de minério, na única estrada ferroviária do Brasil, com bitola universal (1.435 mm-standard). A locomotiva movida a diesel elétrico, está equipada com dois tanques de combustível com capacidade para 45 mil litros. Cerca de 100 funcionários numa escola rotativa acionavam esta máquina que atravessava a savana que cerca Macapá e penetrava suavemente na imensa floresta amazônica”.

Viagem fantástica
Durante o trajeto que vai de Santana a Serra do Navio, são atravessados cinco cursos de água por meio de pontes, a maior das quais cruza, com quase 220 metros, o rio Amaparí. Ainda hoje, durante as paradas nas estações, são feitas as colheitas das produções agrícolas das regiões, quase que num sistema de trocas de mercadorias entre as comunidades. O mais curioso dessas viagens é que durante as paradas os responsáveis pelo vagão de cargas, Clodovil Souza Silva, apenas com um código muito pessoal, consegue despachar, sem nenhuma identificação, todas as cargas aos seus respectivos donos sem que alguma vez tivesse cometido algum engano.
Clodovil Silva, que trabalhava há décadas na empresa, além de responsável pelas cargas, servia também como o comunicador e o elo mais confiável entre as comunidades. “Seu fulano, sicrano mandou dizer que é pro senhor espera-lo no dia tal em determinado lugar e hora”; “Olha, é para ti mandar os documentos para tua mãe para que ela possa te inscrever no concurso”; “Seu marido pede que lhe mande o dinheiro e as mercadorias que ele mandou separar”. Estas são algumas de constantes mensagens levadas e trazidas pelo “seu” Clodovil, um homem baixinho, e de grande confiabilidade e respeito entre os passageiros e comunidades. Ele comandava “pela experiência” a colocação das bagagens.
“Não, esta não é a tua. Esta é do fulano”, dizia Clodovil. O responsável pelo recebimento das cargas replica: “Mas esta caixa é do meu tio”. “Presta atenção no serviço. A tua é aquela ali”, dizia ele, apontando quase que nem olhar para onde vai seu dedo indicador. De vez em quando, como respostas ao serviço gratuito que presta aos colonos, recebia de presente uma fruta, um pato, uma galinha, um biscoito
”para o senhor merendar” e outras pequenas ofertas dos agricultores.

“Sem o trem, estamos no mato…”
Durante a viagem, a reportagem conversou com alguns passageiros moradores das redondezas e perguntou como seria a vida sem o trem e qual a importância dele para a manutenção das comunidades.
Raimundo Nonato dos Reis, 70, morador há mais de 20 anos na parada do Cachorrinho, agricultor e usuário permanente do trem da Icomi, disse que “se não tiver o trem estamos amarrados. É um transporte rápido, eficiente, seguro e barato. Deus nos livre e guarde se algum dia ele tiver que sair ou paralisar. Não haverá mais condições de continuarmos morando aqui”, teme o colono.
Didimo Ferreira Barbosa, comerciante há mais de 35 anos na Colônia de Água Branca, fala que “é fundamental e insubstituível. A passagem é barata, o despacho também. Sem ele estamos fritos. O que está faltando é cobertura nas plataformas, para evitar que as mercadorias molhem ou até mesmo para proteger as crianças que estão de corpo quente. Foram disso é uma maravilha”, disse ele.
Manoel Raimundo da Gama Costa, carpinteiro, 25 anos morando no quilômetro 117, afiança que sem o trem a população daqui sofreria dificuldades maiores. “A vida nessa região só existe devido ao trem. O comércio nem se ouviria falar. É uma pena que para algumas localidades temos que andar com peso na cabeça até três quilômetros. Isso da estação até a casa da gente. E se não tivesse o trem, como a gente ia se atar?”, indagou Manoel Costa.
Há muitos detalhes e histórias sobre essa fantástica aventura de atravessar a floresta amazônica com cheiro do velho oeste no velho trem americano. Um fotógrafo carioca, que estava fazendo uma cobertura fotográfica para a companhia, disse que a todo instante esperava um trote de cavalos vindo em direção do trem para toma-lo de assalto ou trazer alguma mensagem. “Nesse trem revivi meus tempos de menino que adorava um bangüê-bangue”, “viajou” Zeca Araújo.

O logotipo utilizado pela ICOMI, um círculo com o mapa do estado do Amapá nos da uma idéia do que é a ferrovia, situada no Estado do Amapá, antigo distrito do Estado do Pará. Separada do restante do Brasil, somente prosperou devido a fome mundial do manganês que se seguiu após a 2a Guerra Mundial.
O manganês era na década dos anos 50/60 o principal redutor para a fundição do aço, fazendo com que este (o aço) não necessitasse de tanto calor para derreter, assim como o aço que obtinha-se era o mundialmente necessário a reconstrução da Europa devastada pela guerra.
A concessão da lavra deu-se aproximadamente no final da década de 40 e por 50 anos . O complexo industrial reunia a lavra (as minas) o transporte (a ferrovia) e o embarque (o porto) que deveriam ficar sob um só concessionário. O grupo brasileiro procurou sócio para tal encontrando na US BETHLEHEM STEEL o seu parceiro ideal e principal comprador, o qual forneceu toda a infra estrutura ferroviária.
Atualmente as minas ainda apresentam alguns veios de manganês porem a ele associado existem muita matéria inservivel para tornar-se economicamente viável a prospeção a céu aberto. As grande montanhas existentes de minério em Serra do Navio apresentam o teor de 36% de manganês, tornando-se uma grande montanha de rejeitos não padronizados de minério .
O movimento na ferrovia resume-se na remessa semanal de 2 composições de 20 vagões de cromita que é extraída a 40 Km de Cupixi, sendo transportado via rodovia para essa cidade, ali transferida para a ferrovia e levada ao terminal marítimo em Santana,
O outro serviço prestado pela ferrovia são os 6 horários semanais de trens de passageiros entre o porto e a serra, serviço esse de ação social pois para viajar-se 193 Km paga-se a importância de R$ 2,00 (dois reais), não sendo porém por tão pequena quantia que encontramos os carros em mau estado ou apresentando enorme quantidade de detritos após cada viagem. Não, o cidadão sabe a ação social da ferrovia e portanto não a castiga com os seus problemas pessoais, não destruindo os bancos dos carros ou atirando detritos neles.
A cidade de Santana, tornou-se município, e é um dos maiores atracadouros tanto marítimo como fluvial do Rio Amazonas, deslocando o polo econômico de Macapá que não oferecia bom ancoradouro para as suas modernas instalações. Quase toda navegação fluvial no Rio Amazonas parte dela.
A cidade de Serra do Navio tornou-se inexpressiva, pois as minas fecharam e os funcionários foram demitidos. O complexo existente na cidade continua a ser de propriedade da ICOMI, porem o governo do Estado, vai aos poucos tentando melhorar e dar a cidade algo com que ela possa sobreviver.
Do grande império que a Estrada de Ferro Amapá fazia parte vemos ao longo de suas linhas as tentativas de procura de uma alternativa, grandes clareiras na floresta atestam o investimento sem retorno que foram as tentativas para a implantação do arroz, da mandioca, da cana de açúcar e do óleo de dendê
Somente a floresta artificial, composta de Pinus e Eucalipto sobreviveu nos primeiros quilômetros da ferrovia e hoje o eucalipto e abatido, descascado e enviado a Santana para tornar-se pequenos pedaços para a produção de celulose no Japão, para onde e transportado via marítima em containers .
A operação na mina, que encontra-se fechada, na ferrovia e no porto, de embarque de minério, hoje estão divididos e tercerizados em suas operações cabendo a Icomi a fiscalização dos serviços.

Estado do Amapá – Os primeiros colonos do Amapá

O Amapá recebe seus primeiros colonos

Apesar dos primeiros contatos entre o índio e o europeu terem ocorrido no início do século XV com espanhóis, a colonização do Amapá inicia somente a partir do século XVIII com os portugueses. Macapá, a atual capital, se originou de um destacamento militar que se fixou no mesmo local das ruínas da antiga Fortaleza de Santo Antonio, a partir de 1740. (1) Este destacamento surgiu em razão de constantes pedidos feitos pelo governo da Província do Pará (a quem as terras do Amapá estavam juridicamente anexadas), na pessoa de João de Abreu Castelo Branco que, desde 1738, sentindo o estado de abandono em que se encontrava a fortaleza, solicitava à Coroa portuguesa providências urgentes. Assim, os insulares dos Açores colonizaram Macapá, e os do Marrocos Mazagão, entre 1740 e 1772.

Chegam os colonos dos Açores

Depois que o rei D. José I assume o trono português, o Marquês de Pombal fica com o Ministério Real. A primeira providência do novo “Richelieu luso” é nomear seu irmão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado para o comando das Armas do Pará e direção da Capitania do Maranhão e Grão-Pará, gozando de plenos poderes para promover a fundação e colonização de vilas na Amazônia Setentrional. É nesta época que Macapá assiste à chegada de colonos oriundos das Ilhas dos Açores, sob o comando do coronel João Batista do Livramento e do padre jesuíta Miguel Ângelo de Morais.
Mas as dependências e imposições geográficas do povoado, assim como a malária e outros males tropicais, além da inadaptabilidade dos açorianos aliada aos constantes desentendimentos entre o jesuíta Miguel Ângelo e o coronel Livramento, contribuíram para que os primeiros colonos de Macapá não conseguissem sucesso em seu trabalho (2).
O arquipélago dos Açores, de onde vieram esses colonos, ainda constitui parte do território insular de Portugal. Em 1580 sua população lutou bravamente contra os espanhóis, apesar da derrota e instauração da Península Ibérica (Domínio Espanhol, 1580 a 1640). As ilhas tornaram-se ponto de reunião das armadas que traziam riquezas das Índias, bem como palco da guerra marítima entre os ingleses e as potências ibéricas.
Como parte da estratégia de expansão e colonização das posses portuguesas no Novo Mundo, o governo luso promove uma ampla campanha de remanejamento em Cabo Verde e Açores, culminando com o envio de centenas de famílias, com seus escravos, para povoar núcleos coloniais ao Norte e Sul do Brasil.
Assim chegaram, em Macapá, os açorianos entre 1730 e 1750. Apesar de não terem se adaptado ao clima e à insalubridade da região, eles passam para a história de Macapá como seus primeiros desbravadores.

Marroquinos em Mazagão

O município de Mazagão teve sua origem de Mazagão Velho, no Mutuacá, em 1770, quando foi fundada a vila, pelo tenente-coronel Inácio de Alencar Moraes Sarmento. A fundação se deu em cumprimento às ordens da Coroa portuguesa de abrigar 163 famílias de colonos portugueses cristãos, oriundos do Castelo de Mazagran (hoje El Djadidá), no Marrocos, que se desentendiam historicamente com os mouros (mazaganenses convertidos ao islamismo).
Neste local do Marrocos, os mouros passaram a reprimir quem não se adaptasse às leis islâmicas, resultando em inúmeros conflitos, alguns com vitórias e derrotas de um lado e de outro, culminando com a saída dos cristãos da região.
Assim chegaram os marroquinos a Mazagão, por volta de 1771, fixando-se na vila que passou também a se denominar Mazagão, em homenagem à terra africana. (3).
Entre várias contribuições marroquinas, existe a Festa de São Tiago que, realizada todos os anos em Mazagão Velho (a 30 quilômetros de Mazagão Novo), retrata a Lenda que veremos a seguir.

A Lenda de São Tiago

A lenda de São Tiago, cuja festa é encenada todo ano em Mazagão Velho, tem vários requintes éticos. Vejamos:
Conta a lenda que, durante a conquista dos reinos africanos os portugueses adeptos do catolicismo tentaram obrigar os muçulmanos (mouros) a se tornarem cristãos. A reação dos mouros foi imediata. A comunidade muçulmana resolveu nomear um comandante para diminuir a força cristã, a esse tempo comandada pelos capitães Atalaia, Jorge e Tiago. Decorreram inúmeras batalhas que, segundo a lenda, foram sempre com vantagens para os lusos, que tinham como abrigo um grande castelo, cujas muralhas suportavam os tiros de canhão da força inimiga.
Os mouros tinham como chefe o rei Caldeira. Esse e outros nomes aplicados aos mouros, segundo o professor Antonio Munhoz Lopes (que já esteve no local onde se desenrolaram as batalhas, próximo a Marrakesh, na atual El Djadidá) podem ser fictícios, pois em suas pesquisas a respeito do fato, não encontrou monarca algum com esse nome.
Caldeira, vendo o insucesso de seus comandados frente às tropas cristãs, passou a estudar uma forma mais eficaz de vencer o inimigo luso. Assim, teve uma idéia: lembrando-se talvez dos episódios homéricos do Cavalo de Tróia, ocorrido entre gregos e troianos, arquitetava um tipo de presente, não em forma de cavalo, mas de iguarias que deveriam ofertar ao inimigo. Eram iguarias envenenadas.
O “presente” foi enviado aos cristãos como uma espécie de régua para que cessassem as lutas. O próprio mensageiro transmitiu e executou a entrega dos presentes, convidando os cristãos para participarem de um baile de máscaras que ia ser realizado à noite, com intenção de coroar a aliança entre eles.
Ao receberam tais comidas, e desconfiados, os lusos jogaram parte delas na granja dos mouros. Iludidos pela “vitória do plano”, os mouros aguardavam seus adversários para o baile das máscaras. A estratégia era a seguinte: todos iriam fantasiados para o baile, e aquele cristão que quisesse passar para o lado mouro sem ser notado, poderia aproveitar a oportunidade e faze-lo. Atendendo ao convite, os cristãos compareceram à festa levando parte da comida e bebida envenenada. Assim passaram a distribuí-la (ou devolve-la) entre os soldados mouros, que não perceberam se tratar das mesmas iguarias que haviam “oferecido” aos cristãos.
Amanheceu o dia. Os visitantes cristãos já haviam deixado o acampamento. As autoridades mouras, em visita de rotina à granja, perceberam um quadro tétrico: todos os animais estavam mortos. Chegaram mesmo a ver os restos de comida envenenada, oferecida por eles mesmos aos cristãos. O feitiço virou contra o feiticeiro.
Mesmo instante, correram os comandantes mouros para despertar os soldados e contar ao rei. Outra surpresa: maioria deles estava morta pela comida envenenada. Entre eles o rei Caldeira.
Sobe ao trono o menino Caldeirinha, filho do rei morto. Aproveitando o desespero dos mouros, os cristãos realizaram vários ataques de surpresa, numa luta sem precedentes que só cessou ao meio dia Os mouros, por sua vez, e aproveitando-se de uma trégua, enviaram um espião de nome Bôbo Velho, com a intenção de mapear e fazer um levantamento da situação geral do inimigo.
Bôbo Velho apareceu no acampamento cristão, dizendo-se simpático à fé cristã, mas seu ardil foi logo descoberto quando tentava convencer parte dos lusos a se insurgirem contra seus amigos. Percebendo a proeza, passaram a apedrejar Bobo Velho, jogando nele qualquer objeto que encontrassem. Bobo Velho correu assustado para o acampamento mouro. Os cristãos resolveram contra-atacar: enviaram o capitão Atalaia para espionar os mouros. Chegando ao acampamento, Atalaia arrebatou a bandeira, mas foi logo descoberto pelo inimigo que o abateu.
Mesmo ferido, o capitão Atalaia chega próximo ao acampamento do inimigo e atira a bandeira aos companheiros. Mas não tem sorte. Os mouros pegam-no, decapitando-o e espetando sua cabeça em uma vara comprida, colocando-a próximo do acampamento cristão.
Um novo plano Caldeirinha passou a executar: seus soldados cercam o acampamento cristão, pegam as crianças desprevenidas e levam-nas para o acampamento mouro. Depois de apanhadas as crianças são vendidas e, com o dinheiro arrecadado os adeptos de Maomé compram armas e munições.
Ao saber do roubo de seus filhos, os cristãos iniciam uma violenta gbatalha até mesmo movidos pela fé cristã. Caldeirinha ainda propôs, como trégua, a troca do corpo de Atalaia pela bandeira moura que estava em poder dos cristãos. Estes receberam o corpo mas não entregaram a bandeira.
Recomeça a batalha. Os cristãos pedem ajuda de Deus para que se prolongasse o dia, a fim de que pudessem vencer tão desesperada luta. Com a sensação de que o dia estava se prolongando, os cristãos finalmente foram vencendo as batalhas, findando com a prisão do jovem rei e a fuga dos soldados inimigos sobreviventes. Á noite organizaram um baile chamado “Vomonez”.

Personagens da História

Marquês de Pombal – (1699 a 1782). Nasceu em Portugal. Seu nome verdadeiro é Bernardo de Mello e Castro. Originário de pequena oligarquia, estudou Direito em Coimbra e, a seguir, História e Política. Foi apresentado pelo tio ao Cardeal da Mota, primeiro-ministro de D. João V, que o mandou a Londres como embaixador. Enviado depois a Viena, viúvo, casou-se com Leonor Daun, de antiga nobreza. Apesar da grande diferença de idade, foi um casamento feliz e a rainha de Portugal, D. Mariana de Áustria, tornou-se muito amiga da conterrânea, protegendo Pombal, mal visto por D. João V.
Influiu provavelmente na sua escolha, por D. José I, para ministro. Rapidamente Pombal conquistou a inteira e definitiva confiança do rei, fazendo dos outros secretários de Estado meros auxiliares. Odiado pela nobreza e por um grupo clerical, ao qual privou de toda influência política, reagiu implacavelmente contra os seus inimigos e desafetos, entre os quais os jesuítas. Mandou à fogueira, como suposto herege, o visionário jesuíta Malagrida (4). O genovês Pele, acusado de tentar assassina-lo, foi punido como regicida..
Falecido D. José I , houve violenta reação contra Pombal (“A Viradeira”) que culminou num processo político, declarando-o réu e merecedor de um exemplar castigo. Perdoadas as penas corporais por D. Maria I, poucos meses depois morreu de terrível doença, agravada pelo padecimento moral do processo, em Quinta do Pombal, em 8 de maio de 1782 (5).
Durante quase 30 anos, Pombal foi o virtual ditador de Portugal. No plano econômico, procurou executar uma política de monopólio do comércio, tentando impedir a evasão do ouro português para a Inglaterra. Politicamente passou a exercer plenos poderes após o terremoto de 1755, que devastou Lisboa. Foi, em Portugal, um típico representante do “despotismo esclarecido”, política em que se enquadra a perseguição aos jesuítas por ele promovida. Levou a cabo reformas da administração e do ensino, estimulou a indústria e o comércio e fortaleceu a posição internacional do país.
Particularmente preocupado com o Brasil, reformou a legislação sobre a Indústria de Mineração, aumentando as rendas da Coroa. Estimulou as exportações de açúcar e tabaco da colônia, reduzindo os direitos de entrada alfandegários. Também no âmbito do Brasil entrou em conflito com os jesuítas, a propósito da política indígena das Missões. Criou em 1755 a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, à qual concedeu o direito exclusivo de navegação, tráfico de escravos e comércio dos produtos brasileiros.

Fontes de Consulta

1 – PICANÇO, Estácio Vidal – INFORMAÇÕES SOBRE HISTÓRIA DO AMAPÁ, Macapá, 1976, Imprensa Oficial.
2 – REIS, Arthur Cezar Ferreira – O TERRITÓRIO FEDERAL DO AMAPÁ, PERFIL HISTÓRICO, Rio, Imprensa Oficial, 1948.
3 – ANAIS DA BIBLIOTECA E ARQUIVO PÚBLICO DO PARÁ, Volume 14, Belém, reedição de 1997.
4 – CAPITANIAS HEREDITÁRIAS PERANTE O TRATADO DE TORDESILHAS, AS – Teses para o 1 Congresso de História Nacional, tomo especial da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio, 1915.
5 – ROCQUE, Carlos – GRANDE ENCICLOPÉDIA DA AMAZÔNIA, Belém, Pará, Mitograph Editora, 1969.

Estado do Amapá – O círio de Nazaré em Macapá

A primeira procissão do Círio de Nazaré realizada em Macapá aconteceu em 1934, quando as religiosas da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria, ao comando da senhora Éster Benoniel Levy, esposa do então prefeito de Macapá, major Moisés Eliezer Levy. A pesar da cidade já tr seu padroeiro, São José, cuja festa é realizada todo dia 19 de março, a concentração de romeiros do Círio de Nazaré em Macapá concegue ultrapassar, em volume de massa, os penitentes do próprio padroeiro São José, crescendo a cada ano o número de fiéis.
No Estado ele segue a tradição do Pará, sendo realizada a festa sempre no segundo domingo de outubro. Apesar do grande número de romeiros em Macapá, o Círio é uma festa de paraenses. A presença da Virgem andando pelas ruas de Macapá nesse período, é justificável historicamente. É que Macapá pertencia, juntamente com Mazagão, ao Estado do Pará até 1943, quando foi criado o Território Federal do Amapá.
A confecção da indumentária da santa foi, por alguns anos, obras de uma devota fiel, de nome Raimunda Mendes Coutinho, educadora da fase territorial do Amapá, já falecida, e conhecida popularmente por Dona Guita. Mas a exemplo das religiosas da congregação fundada pelo padre Júlio Maria Lombaerde, várias outras congregações como Religiosas de Maria Menina (Bartoloméa), não mediram esforços para que a maior festa religiosa do Estado tivesse, ao longos dos tempos, um colorido maior.

História do Círio
A devoção a Nossa Senhora de Nazaré data, no Pará, dos tempos coloniais. Rezam as crônicas que um homem pardo, de nome Plácido, pescador de profissão, encontrou, em um taperebazeiro, no meio da mata, uma pequenina imagem da Virgem de Nazaré. Levou-a à sua casa, fez-lhe um altar, conseguiu muitos devotos e em breve a residência humilde do pescador passou a ser local obrigatório da presença dos católicos dos primeiros anos de Belém.
Mas como é comum, a lenda se mistura com a história: diz ela que Plácido levou a imagem para sua casa; e no dia seguinte não a encontrou onde a havia deixado: tinha desaparecido. Voltando a vagar pelo mato, achou-a no mesmo galho do taperebazeiro. E por várias vezes a imagem desapareceu de sua casa, para retornar ao lugar de origem. Ali, então, erigiu o pescador uma capela, dando início à devoção.
As crônicas oficiais narram que Plácido quis erigir, no terreno onde se localizava sua residência, uma capela. Morreu antes de iniciar a obra. Sucedeu-o no culto o devoto Antonio Agostinho, que levou avante o encargo de levantar a ermida. Angariando dinheiro entre a população, ergueu-a de taipa e cobriu-a de palha, no centro do bosque transformado, depois, em modesta praça. Hoje, a paupérrima capela é uma das mais suntuosas igrejas do Brasil, toda revestida de mármore e ouro, contendo verdadeiras obras de arte em seu interior.

Primeiro Círio no Pará
Em 1780 assumia a presidência da Província do Pará, d. Francisco de Souza Coutinho. Ele tornou-se devoto, também, de Nossa Senhora de Nazaré. Determinou, então, que anualmente se fizesse uma feira em frente à capela, concorrendo nela, livremente, os agricultores, inclusive os índios. Passando para a parte religiosa, determinou ainda que se realizasse uma grande romaria, levando a imagem do Palácio do Governo à ermida.
No dia 8 de setembro de 1783 realizou-se, portanto, a primeira trasladação: de noite a imagem foi transportada do Palácio; no dia seguinte, de tarde, o povo e as autoridades levaram-na de volta ao seu nicho.
Com o desenrolar dos anos, o Círio sofreu muitas modificações: a imagem passou a ser transportada em uma berlinda, no lugar de ir no colo do bispo, em um carro puxado por bois; incorporaram o Carro dos Milagres (lembrando o de d. Fruas Roupinho, salvo do abismo por interferência da Virgem); o bote em que se salvariam vários devotos, quando do naufrágio do navio português São João Batista; o Carro das Promessas; o Andor dos Anjinhos; e a famosa corda, puxada pelo povo, tendo no meio a berlinda conduzindo a imagem, as autoridades religiosas, civis e militares.


A origem dos arraiais
No período em que era realizada a festa de Nazaré, que durava de sete a 14 dias, vários romeiros iam do interior do Pará até a Basílica de Nazaré. A maioria não tinha condições para ficar em um hotel, ou não possuía parente algum na cidade. Ao redor da igreja, eles começaram a construir barraquinhas, onde passavam as noites e vendiam iguarias à base de pato no tucupi, bolos, salgados e produtos da terra de origem: uma farinha de mandioca, massa para o tacacá, etc. Esse hábito passou a ser incorporado na festa, formando-se daí os arraiais.
Como vimos no início desse relato, em Macapá a festa surgiu em 1934, já com as barracas que eram construídas rudimentarmente, em frente à Igreja de São José, no local onde hoje é o Teatro das Bacabeiras. Até a década de 60 havia a Barraca da Santa em frente à Igreja, onde eram realizadas as festividades da administração paroquial, acompanhadas de retretas da Guarda Territorial.
Durante todo o período do arraial, a rapaziada ia namorar, se divertir e ter uma descontração sadia. Mas hoje os tempos mudaram. Com o desenvolvimento da cidade chegou o progresso, e as gangues de rua já não deixam mais a moçada se divertir.

Religiosidade em torno da santa
São inúmeras as penitências que os romeiros cumprem durante o trajeto do Círio. Na realidade, cada local tem seu padroeiro e, em Macapá, o esposo de Maria, José, não temeria de modo algum a concorrência quea esposa terrena poderia fazer em torno das homenagens à santa.
Das penitências mais freqüentes, já apareceram mulheres carregando uma bília (espécie de pote) à cabeça, para lembrar que seu filho mais novo foi salvo pela Virgem, de uma crise de verminose, após beber um pouco de água benta do padre, com a invocação de Maria.
Um certo senhor foi visto em 1989, carregando quatro jarros na cabeça. Ao ser interrogado, este senhor informou-me que logo após inúmeros pedidos à virgem de Nazaré, conseguiu finalmente fazer sua casa, em alvenaria.
A presença até mesmo de uma saca de cimento nas costas foi detectada em 1994, quando o penitente, um certo agricultor, explicou que estava trabalhando em sua casa, fazendo um forno para a confecção da farinha. Em um dado momento o fogo se espalhou pela palhoça em que estava fazendo a farinha, e em pouco tempo ela foi consumida pelo fogo. O penitente ficou preocupado porque colocou parte de sua renda, da última safra, embaixo de um saco de cimento que estava exatamente perto do forno de farinha, pois não confiava em seus dois filhos homens que moravam em sua casa, porque poderiam gastar o dinheiro em bebida. Após meditar sobre os prejuízos que teve em razão de um incêndio, um de seus filhos descobriu que embaixo de uma saca de cimento, que sobreviveu ao fogo, estava a fortuna do pai. Em honra à virgem, o penitente resolveu participar de dez círios ininterruptos em agradecimento à Virgem de Nazaré.

Humor e Religião
Mas o Círio também tem seu lado humorístico. Um dos casos se refere a uma devota de 65 anos, que chegando ao então bispo de Macapá, d. José Maritano, esta solicitou ao bispo que pagasse uma promessa que ela tinha feito à santa, e não poderia faze-lo em razão do avançado da idade. A promessa consistia em o bispo correr, da catedral de São José em direção ao antigo prédio da Intendência soltando uma caixa de pistolas. “Mas eu não posso fazer isso, minha senhora, porque a promessa é sua..”. Ao que ela respondeu: “Mas eu já pedi à minha santa padroeira que o senhor me substituísse nessa penitência, porque eu estou muito velha”.
Não adiantou o bispo dizer à penitente que ele poderia tornar a promessa sem efeito. Ela não aceitou, pois “o que a Santa de Nazaré define ninguém pode desfazer, nem mesmo um bispo”. O certo foi D. José Maritano pedir a um sacristão que fizesse o percurso com a pistola.

Arraial, coisa do passado
Uma das grande saudosistas do Círio, que já se tornou ícone da festa, foi a professora Guita, que deu parte de sua vida às festividades do evento. Ela sempre recordava dos primeiros arraiais, “onde a moçada realmente ia se divertir. Não havia violência. A polícia tinha pouco trabalho. O namoro era sadio, as pessoas vinham para a barraca da santa ou participavam de uma pescaria. Canoas, atadas a traves, giravam de um lado para outro conduzindo crianças. Hoje em dia esse cenário não existe mais, e a tendência é deixar o arraial para trás, pois as autoridades do município não dão valor a isto”. Estas declarações foram da professora Guita em 1987.
Realmente o arraial com todo o espetáculo profano resume-se apenas a alguma barracas, e o movimento é maior em torno da barraca da santa, improvisada na quadra do antigo Pensionato.
Tanto no Pará quanto no Amapá, o cerimonial do Círio segue um padrão: na noite de sábado realiza-se a trasladação: a santa é levada de uma igreja paroquial de Macapá a outra. No domingo bem cedo, a cidade inteira acorda com o foguetório. Às sete horas começa a procissão. E durante quadro horas uma fantástica massa humana se comprime nas principais artérias da cidade como há sessenta anos atrás.

Fé, maior instrumental
Questionada ou não, a romaria do Círio de Nazaré segue sem problemas o trajeto da cidade todos os anos. Os penitentes, alheios aos falatórios de fiéis de outras religiões, seguem firme e solenemente a pagar as promessas contraídas em seus momentos mais dramáticos. Nesse clima de paz, o que interessa realmente é a fé, que é o fio condutor de todo esse processo de caminhada da santa. São mais de setenta anos de Círio em Macapá; de esperanças e certezas de uma população católica sedenta de fé à sua virgem, cumprindo o itinerário de devoção à “advogada do povo”, crentes na salvação eterna. É o Círio. É a romaria. É a solene manifestação de fé da população. É a certeza de dias melhores, na criatividade popular de valorizar a mulher que foi a grande causa de tudo isto: o nascimento do Salvador Jesus Cristo!

Estado do Amapá – Os primeiros bairros de Macapá

Vista do alto, a cidade aparenta uma unidade. Esta aparência uma desfaz-se, contudo, quando estamos dentro dela e conhecemos suas inúmeras divisões. Dentro de uma cidade existem, por exemplo, as ruas; nas ruas as casas; nas casas as famílias; nas famílias as pessoas. Dentre as divisões da cidade existem, particularmente, os bairros – uma grande área formada por ruas, casas, famílias, pessoas… Uma espécie de pequena cidade dentro da cidade maior. Muitos bairros têm o poder de despertar a paixão de seus moradores. Tanto que, quando se quer dizer que uma pessoa está fazendo a defesa apaixonada de uma determinada região, colocando-a acima das demais, chama-se esta pessoa de “bairrista”. Geralmente os bairros mais antigos são os que têm mais charme, exatamente por terem mais história. Mas também não é raro um bairro virar tradição, ainda que tenha sido criado há pouco tempo. No texto abaixo, contamos a história de alguns dos bairros mais famosos de Macapá. É necessário acrescentar que este texto foi baseado em declarações do professor Estácio Vidal Picanço.

Bairro Central

O bairro Central é o berço da cidade, fundada em 4 de fevereiro de 1758. É a “cidade velha” de Macapá. O bairro encampou os primeiros bairros de Macapá, como o da Fortaleza, onde ficava a antiga doca; do Cemitério; do Alto; do Formigueiro, onde vivera a Mãe Luzia (Francisca Luzia da Silva) e da Favela onde viveram grandes figuras da nossa cultura popular, entre eles Benedito Lino do Carmo, o velho Congós, e D. Gertrudes. Ali se fixaram as primeira famílias e a cidade cresceu.

Bairro do Laguinho

Segundo a tradição, o local era conhecido como “Poço da Boa Hora”, onde morava um senhor descendente de escravos. Nas horas do meio-dia e das seis da tarde ninguém se atrevia a passar pelo local, pois esse senhor fazia malvadezas. A referência do nome do morador (Pretinho) está na obra de Fernando Canto: “Telas e Quintais”. Não foi encontrado ainda o local exato onde ficaria localizado o “Poço da Boa Hora”. Maioria dos moradores diz que recebeu a estória de seus pais, e que estes receberam de seus avós.
O primeiro governador do então Território do Amapá, capitão Janary Nunes, depois de instalar seu governo, desejando a expansão urbana de Macapá e de áreas nobres para construir prédios públicos e residências para o funcionalismo e para a construção da própria residência governamental, entrou em contato com os moradores da praça Barão do Rio Branco, a fim de convence-los a aceitar uma transferência de local.
Com a ajuda do líder, Mestre Julião (Julião Tomás Ramos), os moradores da praça formavam uma comunidade negra chamada vila Santa Engrácia. Esta vila era o local onde se manifestavam as tradições folclóricas amapaenses.
Os membros da comunidade aceitaram a proposta de Janary Nunes e tiveram suas residências transferidas para os campos do Laguinho, onde o governo havia construído uma série de casas. O local se chamava campo dos Laguinhos porque tinha suas terras cercadas por pequenos lagos.
O Laguinho era limitado, ao norte, pelo antigo campo de aviação onde o cantador de Marabaixo, Raimundo Ladislau, escreveu estes belos versos, daquele que pode ser considerado o Hino da Nação Negra do bairro do Laguinho:

“Aonde tu vai, rapaz
Por estes campos sozinho?
Vou fazer minha morada
Lá nos campos do Laguinho…”

Mais tarde o Laguinho mudou de nome, passando a se chamar Julião Ramos. Após um plebiscito realizado entre a população do bairrro, o local voltou a ser chamado de Laguinho. Lá se encontra a Escola Estadual General Azevedo Costa, a União dos Negros do Amapá, além da Praça Julião Ramos.

Bairro do Trem

Logo após a instalação do governo territorial, foram encontrados no começo da avenida Feliciano Coelho de Carvalho, vestígios de alguns trilhos de trem, que possivelmente serviram às carretas que transportavam material para a construção da Fortaleza de São José de Macapá, no século XVIII. Este achado é a fonte do nome do bairro do Trem.
Ali foram construídas as primeiras casas para abrigar os operários que chegavam ao Amapá, para construir os prédios públicos do Território. Por este motivo o local ficou conhecido como Bairro Proletário.
Bairro tradicional de Macapá, ali surgiu o Trem Desportivo Clube, tendo como fundadores Bellarmino Paraense de Barros, Benedito Malcher, os irmãos Osmar e Arthur Marinho, Walter e José Banhos, além de outros.
Em 1º de maio de 1950 foi fundada a primeira escola do bairro, conhecida atualmente como Escola Estadual Alexandre Vaz Tavares, em homenagem ao poeta e político macapaense.
Nessa mesma data, em uma cerimônia que contou com a presença do então monsenhor Aristides Piróvano, do padre Antonio Cocco, do governador Janary Nunes e seu secretariado, foi lançada a pedra fundamental da igreja de Nossa Senhora da Conceição.
O bairro do Trem viu surgir, ainda, o Ypiranga Clube, atual campeão amapaense de futebol profissional. Outras fontes de atração do Trem são a escola Santina Riolli, a praça da Conceição, padroeira do bairro, cuja data é comemorada em 8 de dezembro; o antes Museu de Plantas Medicinais Waldemiro Gomes, que teve seu nome trocado para Museu do Desenvolvimento Sustentável, e a sede do Sesi.
O Trem é um dos bairros mais tradicionais de Macapá. Lá existiu, na década de 50, o Bar do Barrigudo, na esquina da rua Leopoldo Machado com a avenida Feliciano Coelho, onde eram realizadas saudosas batalhas de confetes, resquícios dos velhos carnavais.

Beirol

A denominação deste bairro origina-se de um antigo paredão existente ali, no final do século passado. O paredão servia de referência para que os artilheiros da Fortaleza de São José praticassem o tiro-ao-alvo, usando os centenários canhões da fortificação. A crônica da época conta que o padre Gregório Álvares da Costa, terceiro vigário de Macapá, destacava-se como exímio artilheiro nestes exercícios. A ele competia dar lições de tiro e de arte militar aos soldados da fortaleza. Os exercícios de tiro-ao-alvo eram praticados nos dias santificados e nas datas cívicas.
Logo após a instalação do governo territorial, foi construído no local, que ainda não se chamava Beirol, o primeiro presídio de Macapá, mas também ficou conhecido com o nome do bairro. Assim desfaz-se o comentário tradicional de que o bairro tivesse se originado do presídio.
No bairro encontram-se a maioria das estações transmissoras das emissoras de rádio e televisão do Amapá; as antenas da Embratel; o balneário do Araxá; a sede campestre do Sesc; a estação de tratamento de água da Caesa; o Ginásio Castelo Branco e a Igreja de São Pedro, entre outros locais de destaque.

Pacoval

O topônimo é derivado de Pacobal, que segnifica “bananal”, referindo-se a um tipo de banana, chamada de pacova (ou pacova). Os primeiros moradores deste bairro populoso foram os nordestinos, que localizaram-se às margens do Lago do Pacoval, onde passaram a praticar a agricultura rudimentar, sendo que alguns tentaram trabalhar com a pecuária.
No século XVIII, Mendonça Furtado mandou abrir um canal no Lago do Pacoval, para o escoamento de suas águas, pois o canal era foco de mosquitos transmissores da malária, que atingia os moradores da então vila de São José de Macapá. As principais vítimas da malária eram os índios. Por sinal, existem no bairro duas áreas que forram usadas como cemitérios. Um está situado no começo da avenida Piauí e outros às margens do lago.
Tudo indica que o pacoval encontrado pelos colonos nordestinos tenha sido plantado pelos indígenas. O bairro possui várias escolas e igrejas, destacando-se a de Nossa Senhora Aparecida. Ali estão localizados o Terminal de Abastecimento e o Centro Social Asa Aberta.

Perpétuo Socorro

Era o bairro do antigo Igarapé das Mulheres, onde as mulheres lavavam as roupas de suas patroas e tomavam confortáveis banhos, ficando de guarda uma mulher com uma espingarda, chamada de Lazarina, para o caso da aproximação de alguém do “sexo feio” (nome que, no século passado, eram tratados os nomes nos festejos do Marabaixo) para espiá-las na hora do banho.
Hoje o bairro está totalmente saneado, com vilas e casas populares. Ali existe também a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira do bairro, além de um centro social, um destacamento de polícia e um centro de saúde.

Estado do Amapá – Sítios Arqueológicos no Amapá

O Amapá está cheio de sítios arqueológicos. Sítios arqueológicos são espaços ocupados por culturas passadas, constituindo objetos arqueológicos pertencentes a grupos indígenas nômades e semi-nômades e localizados, em conseqüência de perfurações no solo, causadas pela erosão ou por atividades humanas, principalmente a agrícola. Os primeiros sítios arqueológicos do Amapá foram estudados inicialmente por pessoas sem preparo científico adequado, mas que contribuíram, mesmo assim, com seus achados, para o desevendamento da população amapaense.
Atribui-se a D. S. Ferreira Penna a localização oficial do primeiro sítio arqueológico no Amapá. O fato aconteceu em 1872, na região do Maracá (margem esquerda do rio de mesmo nome). O local do achado passou a ser conhecido como Central do Maracá.
Através dos sítios arqueológico é possível o estudo de urnas, igaçabas, machados e outros apetrechos domésticos que, num futuro bem próximo, servirão para que a nossa pré-história seja desvendada.

A região do Maracá

Em visitas científicas realizadas na região do Maracá, Ferreira Penna encontrou diversas urnas funerárias, algumas contendo esqueletos humanos; outras de formas tubulares em sua maioria; outras achatadas, apresentando um simples cilindro coberto por uma tampa arredondada. Também foram encontradas urnas com a forma cilíndrica, representando figuras humanas sentadas num banco, com braços e pernas bem destacadas (urnas antropomórficas). Nestas urnas havia sempre a caracterização do sexo.
De todas as expedições efetuadas no Maracá, a que atraiu mais atenção foi a de Ferreira Penna, que descobriu uma série de inscrições nas cabeceiras do Igarapé do Lago, afluente do Rio Maracá, num local denominado Buracão. O nome Buracão se justifica pela existência de uma imensa gruta localizada ali perto. Vejamos o que diz Ferreira Penna sobre esta expedição efetuada em 1872:

As Urnas do Maracá – Relatório de D. S. Ferreira Penna

Em janeiro de 1872, o governo da Província, então sob a administração de Sua Excelência o dr. Abel Graça, expediu-me instruções para continuar os meus estudos sobre Geografia, Estatística e História da Província, pondo para este fim à minha disposição o pequeno vapor Pará, comandado pelo meu particular amigo o 1º tenente M. Ribeiro Lisboa. Parti logo a cumprir esta missão com a firme resolução de subir o rio Maracá a fim de descobrir o lugar em que se achavam certas urnas mortuárias de forma humana de que eu tinha exatas notícias por uma que o ilustrado dr. F. da Silva Castro, pouco antes oferecido ao Museu Paraense então sob minha administração. Depois de vencer diversas dificuldades e até certas repugnâncias ou objeções, cujas causas eu era, aliás, o primeiro a respeitar, vi enfim plenamente satisfeitos os meus desejos, trazendo dali para a capital uma porção de urnas de diferentes formas, e quase todas cheias de ossos.
Demarcadas e recolhidas à casa de minha residência, coloquei aos que representavam corpos humanos na posição que guardavam nos seus velhos jazigos, em fileiras e em pés.Nesta atitude, vistas a certa distância, elas apresentavam um aspecto singular. A sua cor cúpreo-escura, suas formas tubulares, e as cabeças envoltas em toucas ou turbantes, deixando só aparecer o rosto às vezes colorido, fizeram-me recordar as figuras imponentes dos Caribas, tão belamente descritas por Humboldt, cujos corpos altos, tintos de urnas, meio cobertos até uma das épocas por um pano azul-escuro, assemelhavam-se a estátuas de bronze que se erguiam ao céu no meio dos Steps. Uma segunda vista às florestas do Maracá em outubro de 1872 forneceu-me ainda algumas urnas que as abrigavam do tempo, mas não dos grandes mamíferos que procuravam também este abrigo, lançado por terra às urnas para melhor se acomodarem.
É digno de notar o esmero com que os oleiros indígenas figuravam em relevo os órgãos genitais, tanto das pessoas adultas como das menores e tanto de um como de outro sexo, podendo-se quase afirmar que era nesta particularidade que eles mais se esforçavam para imitarem a natureza. Eu creio que esta circunstância não se pode concluir cousa alguma contra os costumes do povo a quem pertenciam aquelas urnas, pois que para os nossos indígenas nunca a nudez do corpo e a plena exibição de qualquer de suas partes foi objeto o mais contrário da decência do que para nossos primeiros paiz no Paraizo Terreal. No final do relatório que apresentei ao Governo Provincial, em resolução da minha missão, consignei um trecho que peço permissão para transcrever aqui, posto o que seja assunto pessoal. É o seguinte:
´A minha última palavra aqui é para o meu jovem e ilustrado amigo e amável, 1º tenente M. Ribeiro Lisboa, comandante do vapor Pará. Este distincto e bravo oficial da Marinha Imperial não se mostrou somente zeloso e econômico no comando do seu navio; foi também um muito valoroso auxiliar que encontrei. É assim, por exemplo, que ele expontaneamente encarregou-se de determinar a posição geográfica de vários pontos importantes que eu tinha de visitar durante a viagem. Atendendo ao meu pedido fez-me o senhor Lisboa, o importante serviço, quando chegamos ao Maracá, de adiantar-se com um guia e com a maior parte dos trabalhadores em duas montanhas, para fazer extrair as urnas funerárias a que alude em outro lugar, — trabalho que ele dirigiu com tanta insistência e de modo tão complexo que ninguém certamente o faria melhor. Pouco depois de nosso regresso, o oficial Lisboa escreveu e fez publicar no Diário do Grão-Pará um excellente artigo dando notícia geral danossa viagem àquellas urnas, artigo em que sem o pretender exigiu abundantes provas de seu talento e de uma inteligência cultivada com esmero. O assunto, aliás, póprio para excitar o entusiasmo de um mancebo como arte, que no curso da vida humana não procura somente os gozos materiais mas, guiado por sentimentos mais nobres, busca de preferência os deleites reais e inesgotáveis, reservados unicamente aos espíritos escolhidos que constrituem a única aristocracia que Deus estima e que o homem deve respeitar: a aristocracia da inteligência” (Transcrito de A Província do Pará, de 12 de dezembro de 1872).

As inscrições encontradas no Maracá estão servindo de base para complementação de estudos de nossos antepassados Tucuju, mas existem fortes indícios de que elas foram feitas por povos vindos do continente asiático há milênios de anos. Segundo o etnólogo Alexandre Vom Humboldt, esses povos vieram pelo Oceano Pacífico, penetraram no Atlântico e chegaram às terras do Amapá.
Em 1896, o tenente-coronel Aureliano Pinto Guedes comandou uma expedição arqueológica também à região do Maracá. Nesta expedição, Pinto Guedes descobriu uma conta de vidros européia, pertencente ao século XVI. Esta peça constituiu-se em uma das primeiras coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Em 1916, Ferreira Penna esteve novamente na região do Maracá, complementando em 1988 o arqueólogo Klaus Hilbert, do Museu Emílio Goeldi, que identificou a caverna descoberta anteriormente por Guedes, além de nove sítios arqueológicos que servirão de base para novos estudos sobre a Pré-História do Amapá.

Montes Curu, em Cunani

Cunani é uma vila pertencente ao município de Calçoene. Tanto para a pré-história como para a história, Cunani mereceu importância relevada. Na história do Amapá, a vila chegou mesmo a ser República Independente por duas vezes. Uma expedição coordenada por Emilio Goeldi, nos Montes Curu, possibilitou a descoberta de dois túmulos, que tinham a forma de um cano longo, em cuja ponta estavam depositados vasos funerários. Chapas de pedras serviam como laje de cobertura. De forma original, as urnas eram vasos divididos em zonas, umas salientes e outras reentrantes. Um dos vasos tinha a forma de uma terrina alongada, outra de um tabuleiro retangular. A decoração característica foi obtida por desenhos virgulares gregos, e linhas pintadas em vermelho sobre o fundo branco.
A modelagem aplicada era discretamente usada. A maioria dos vasos tinha o fundo perfurado, indicando que o seu uso exa exclusivo para fins funerais. Esta cerâmica representa uma tradição posterior à primeira ocupação do Amapá. Atualmente este acervo arqueológico está exposto na Divisão de Arqueologia do Museu Paraense Emílio Goeldi.


Pacoval (Macapá)

Em novembro de 1985, foi descoberto um sítio arqueológico em Macapá, no bairro do Pacoval (final da Rua Piauí), por ocasião de escavações para construção de uma residência do então prefeito de Macapá, Jonas Pinheiro Borges. Ali os operários encontraram urnas funerárias indígenas. O governo do Amapá, tão logo tomou conhecimento do fato, providenciou a interdição da área e comunicou o acontecimento à administração do Museu Paraense Emílio Goeldi. Por sua vez, o Museu providenciou a vinda de duas arqueólogas que atuaram junto aos técnicos da Secretaria de Educação do Amapá.
Foram realizados novos trabalhos de escavações, desta vez com a coordenação das técnicas do museu.Duas urnas que se encontravam expostas sob o risco de destruição, foram logo retiradas. Após a delimitação do terreno com base na extensão da mancha de “terra preta”, foi feita uma sondagem para se verificar a ocorrência do material arqueológico em profundidade. Desse trabalho resultou um relatório, em que se pedia mais atenção para a pesquisa arqueológica no Amapá.
Na ocasião, foi também elaborado um projeto para salvamento arquitetônico do Sítio do Pacoval. Referido projeto foi aprovado, tendo como fonte financiadora o CNPQ, e apoio do Governo do então Território do Amapá.
A pesquisa de campo teve início em 14 de janeiro, se estendendo até 3 de fevereiro de 1986. Após o levantamento geofísico da área, seguiram-se os trabalhos de escavações com base nas anomalias detectadas. Paralelamente a esse trabalho, foram feitas restaurações de algumas peças nos laboratórios do então Museu Costa Lima, sob a coordenação do Museu Emílio Goeldi.
Parte do material arqueológico do Sítio do Pacoval encontra-se nas dependências do Museu Waldemiro Gomes e do Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva. Uma amostragem do material coletado foi enviada para análise do teste Carbono 14, que permitirá a datação definitiva e mais precisa. Certamente, teremos informações interessantes num futuro bem próximo, sobre as peças do Sítio Arqueológico do Pacoval, e seus significados no contexto da pré-história do Amapá.

Rio Preto, em Mazagão

O Rio Preto é um braço do Mutuacá, no qual há 20 km acima da foz está localizada a cidade de Mazagão. Durante levantamentos realizados para execução de um Relatório de Impacto Médio Ambiental (Rima) do trecho da BR-156 (Macapá-Laranjal do Jarí), no trecho situado entre uma localidade às margens do Rio Preto e a cidade de Laranjal do Jarí, foram localizados 10 sítios arqueológicos, sendo sete indígenas e três neo-brasileiros. Os trabalhos de levantamento preliminar foram realizados pelos arqueólogos J. Chmyz e S. Sganzerla, do Instituto de Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná.

Inscrições rupestres em Ferreira Gomes (Fotos Inscrições)

Umas inscrições gravadas num rochedo, em baixo-relevo, na região de Tracajatuba (município de Ferreira Gomes), estão chamando a atenção da comunidade científica do Pará e do Amapá, e pode revelar alguns mistérios encravados no oceano obscuro da arqueologia.
Figuras em formas de elipses, animais, cruzes e outras mais, foram encontradas e estão espalhadas num raio de 500 metros na superfície do rochedo. Elas estão dispostas em séries, e juntas formam um painel gigante ao ar livre.
Pela disposição em que elas se encontram, formando espécies de constelações, alguns estudiosos acreditam que ali era local de realização de rituais sagrados, mas as informações ainda não passam de suposições.
Segundo o diretor do Museu Histórico do Estado, Adervan Lacerda, que comandou uma equipe de restauradores para tirar alguns moldes dos desenhos, há muita coisa a ser desvendada nesses achados, que para ele, serão esclarecidos por autoridades da Arqueologia. “Essas inscrições foram descobertas há quatro anos atrás. O próprio dono do terreno veio até nós e, desde 1996 estamos em contato direto com o corpo de técnicos do Museu Paraense Emílio Goeldi, que de vez em quando enviam arqueólogos para fazer todo o trabalho de estudos, mensuração e classificação dos achados”, explicou Adervan.
Não tendo semelhança alguma com outros achados, como as pinturas rupestres do Egito, ou as pedras de Ítaca, ou mesmo as esculturas da Ilha de Páscoa, as pinturas gravadas no rochedo obedecem a um padrão, cujo significado será desvendado, no futuro, pela comunidade científica.
Perguntado sobre o destino que o local terá, Adervan adianta que o Instituto de Patrimônio Histórico dará um destino especial ao local, inclusive a legislação brasileira é bem clara quando ocorrem esses achados, eles passam a ser patrimônio da região.

Gravações nas rochas
O que chama a atenção do observador de imediato, é que essas inscrições foram gravadas em rochas de origem magmática, muito duras, e que faca ou algum instrumento cortante, conhecido à época, não teriam condições de desenha-las. “Não podemos adiantar nada sobre o que ocorreu aqui. O que sabemos é que quem fez, deve ter empregado paciência e instrumentos que poderiam cortar a rocha. Isto é uma um enigma que desafia a nossa capacidade. Por isso mesmo é que o Museu Histórico do Amapá está realizando parcerias com o Museu Emilio Goeldi, no seu Departamento de Arqueologia, para que se estude esse fenômeno com delicadeza”, diz Adervan, complementando que “os resultados dessas inscrições não demorarão muito a aparecer. E qualquer que sejam eles, isto se constituirá em mais um patrimônio arqueológico que a região terá, incorporando-se a outros já existentes, como as 16 grutas-cemitérios encontradas na região do Maracá”.
O local onde foram encontradas as inscrições situa-se em área do município de Ferreira Gomes, a 23 quilômetros da sede municipal.

Estado do Amapá – Francisco Xavier da Veiga Cabral – O Cabralzinho

Nasceu em 05 de maio de 1861. Era filho de Rodrigo da Veiga Cabral e Maria Cândida da Costa Cabral. Seu pai exerceu o cargo de vereador na Câmara Municipal de Belém, a partir de 1861, por vários períodos. Contraiu casamento com Altamira Valdomira Vinagre da Veiga Cabral, filha de Pedro Augusto de Oliveira Vinagre e Emiliana Estelita Pereira Vinagre. O nome Vinagre está ligado ao movimento revolucionário que ensangüentou a antiga Província, denominada A Cabanagem no tempo do Império. De seu matrimônio nasceram as filhas Maria de Jesus da Conceição, Valdomira Cândida e Altamira Cândida. Altamira, já falecida, foi casada com o eminente advogado e jurista, ex-Prefeito de Belém, Alcindo Cacela.
Algumas fontes dão a Veiga Cabral como nascido em Cametá. Em publicação estampada no jornal “Folha do Norte”, em longo noticiário remetido no Rio de Janeiro, por ocasião do seu centenário em 05 de maio de 1961, constam informações que teriam sido prestadas pelo Professor Mário da Veiga Cabral: “Francisco Xavier da Veiga Cabral nasceu em Belém, capital do Estado do Pará, dali embarcou com destino a New York, no ano de 1891. Nos Estados Unidos, portanto, passou algum tempo, retornando ao Brasil impregnado, naturalmente, dos mesmos ideais americanos que aqui tanto repercutiram na Independência”.
“Era homem de baixa estatura dae chamarem-no (Cabralzinho), agilíssimo e valente”.
Faleceu em Belém a 18 de maio de 1905, às 5h30min da manhã, quarta-feira, contando apenas (quarenta e quatro) anos de idade.

COMO TUDO ACONTECEU

Contestados

O Tratado de UTRECHT de 1713 e o de Viena de 1815 fixaram os limites da França com o Brasil no curso do Oiapoque, numa superfície de área equivalente a 137.419 km².
A descoberta de ouro em 1893 pelos irmãos Germano e Firmino (Seguindo orientações de um sonho do pai deles), trouxe à região pessoas de várias procedências: brasileiros, portugueses, chineses, americanos, ingleses, crioulos da Guiana, indianos, judeus, holandeses e outros para habitarem o curso do rio Calçoene.
Em um ano, já tinha para mais de seis mil pessoas. O ouro corre em abundância e a notícia repercute em Paris. O governo francês passa a olhar com maior atenção a sua possessão sul-americana. Caiena até então, nada mais fora do que um local de degredo para os grandes criminosos. Um sinistro presídio enche de dramas a sua história (leia-se O Livro Papilom).
Com o desenvolvimento começaram a aparecer as povoações, como: a Daniel, Firmino, Vila do Espírito Santo do Amapá (depois chamada Montenegro). Depois Daniel e Firmino se uniram e formaram a Vila de Calçoene. A neutralização do contestado desde 1841 existia. E os crimes eram punidos pelas justiças brasileiras ou francesas, tornando-se de praxe enviar os delinqüentes franceses, para Caiena e os brasileiros para Belém.
De 1841 à 1843 as divergências políticas se aplainavam mediante entendimentos entre os governos dos dois países, ou no local, por interferência dos governantes de Caiena e Belém.
Mas, pouco a pouco o contestado se afrancesava. Nomes franceses eram colocados em rios e povoados. Era preciso reagir diante à pretensão, cada vez mais crescente. A população brasileira já olhava com desconfiança aquela invasão disfarçada pela fome do ouro. Os mineiros passaram a ser perseguidos e humilhados pelos estrangeiros.
Era representante no governo francês no contestado Eugénie Voissien, que arbitrariamente proibiu aos brasileiros o acesso à região das minas. Só os franceses poderiam fazê-lo.
No dia 10 de dezembro de 1894 teve início a reação.
Chefiavam o movimento Francisco Xavier da Veiga Cabral, Manoel Antônio Gonçalves Tocantins e Desidério Antônio Coelho.
Eugénie Voissien foi deposto pelos revolucionários. É aclamado pelo povo, como chefe local, Desidério Antônio Coelho.
De 10 a 25 de dezembro começam as primeiras providências para consolidar a nova situação política de Desidério. Convoca-se para o dia 26 a Assembléia Geral, que deveria ratificar a escolha. Reúne-se a população no prédio do governo local.
Desidério Antônio Coelho prefere desistir de sua investidura. E sugere, nobremente, seja organizado Triunvirato. Discute-se. Debate-se. Entre aclamações entusiásticas dos presentes é finalmente aprovada a organização do Triunvirato, constituído de Francisco Xavier da Veiga Cabral, Desidério Antônio Coelho e o Cônego Domingo Maltez. Na hipótese de falta ou impedimento dos triúnvinos, seriam substituídos por suplentes: João Lopes Pereira, Manoel Joaquim Ferreira e Raimundo Antônio Gomes.
Dispunha o Triunvirato de poderes administrativos, financeiros e militares. Deveria organizar-se militarmente para defesa da região. Uma milícia se fazia necessária. Quanto à legislação, respeitar-se-se-ia a Constituição do Estado do Pará, instituída no início da República. Os interesses locais ditariam as normas a seguir quanto às decisões do Triunvirato.
Entre as primeiras medidas surgiram a proteção ao comércio dos brasileiros, a exploração das minas auríferas, a instituição de tributos, criação de um cartório de Registro Civil, abolição das penas infamantes. Sobre as mercadorias provindas de Caiena criou-se o imposto de 10%. Os gêneros brasileiros eram isentos.
Todas essas medidas, de cunho nacionalista e visando á reintegração da área na vida brasileira, repercutiram logo em Caiena, levadas por emissários angustiados. Os franceses não poderiam receber com prazer tais notícias.
Governava então a Guiana Francesa Charvein (alguns grafam Cherwein ou Chervin), que se apressa em tomar providências agressivas. Maquiavelicamente nomeia seu representante no Contestado a um brasileiro: Trajano. Homem de condição humilde, negro, viera, segundo uns, de Cametá, segundo outros, da Vigia atraído pelo rush do outro. Trajano há muito se aliara aos franceses, ora perseguindo os mineiros nacionais, ora perseguindo, por ações e palavras, aos estrangeiros. Charvein, nomeando-o seu representante, pretendia talvez neutralizar a reação brasileira, por se tratar de um elemento não francês.
Enganou-se, no entanto.
Mal chega Trajano ao Cunani começam as suas medidas antipatrióticas. Preferia estabelecer-se no Cunani. Veiga Cabral e os outros triúnviros se encontravam na vila do Amapá, também conhecida por Vila do Espírito Santo do Amapá, à margem direita do rio Amapazinho e foz do igarapé do Campo, nas proximidades do Lago Grande.
Trajano, com maus propósitos, insiste em restabelecer a situação anterior, desrespeitando a autoridade do Triunvirato.
Veiga Cabral convida-o a ir à Vila do Amapá. Foi encarregado da diligência o major Felix Antônio de Souza, que tudo faz no sentido de demovê-lo de atos contra o Brasil. Trajano desatende. Os ânimos se exaltam. Estava em jogo o futuro de toda uma região. Era impossível controlar a explosão de revolta contra a atitude do homem, que se punha a serviço da causa estrangeira. A reação local culminou com atos violentos. Trajano é castigado fisicamente por alguns revolucionários inconformados. A notícia voa rapidamente em direção de Caiena.
Trajano, o delegado do Governo de Caiena, e portanto, do Governo Francês, fora seviciado na Vila do Amapá!
Ultraje! Pensa o governador francês. Ofensa! A França fora ofendida!
Era preciso reagir! E imediatamente Charvein, sem muito refletir, expede ordens para a organização de uma expedição militar.
Apresta-se um barco de guerra: a canhoneira Bengali. Colocam-se tropas armadas sob o comando do Capitão Lunier. Um outro oficial francês, Audibert, dirige a embarcação. Cento e trinta soldados armados estão à disposição de empresa temerária, que haveria de tingir de sangue o solo pátrio. São profissionais amestrados, lançados na aventurosa campanha militar.
Ordens severas são transmitidas por Charvein a Lunier: aprisionar Veiga Cabral (mais conhecido como Cabralzinho) e levá-lo para Caiena. Libertar o delegado “caienense” Trajano, até então mantido em prisão.
Charvein não reconhecia a autoridade do Triunvirato. Insurgia-se contra a decisão da Assembléia Geral brasileira. Desejava manter o status quo anterior, em que os franceses controlavam ou procuravam controlar, política e financeiramente, a grande região, canalizando, pelo porto de Caiena, muitas toneladas de ouro.
Moviam os brasileiros não apenas os interesses financeiros. A essa altura os ideais eram outros: acendia-se a chama do patriotismo em todas as almas. Cabralzinho passou a ser o símbolo desse sentimento, capaz de todos os sacrifícios.
Envolvendo-se na política imperial integrou o Partido Liberal. Com a instituição da República aderiu à revolta da Armada. Deslocou-se depois para o Amapá onde possuía interesses comerciais em sociedade com Felipe José de Lima. Tomara parte saliente nos primeiros acontecimentos políticos do Estado do Pará, logo após a proclamação da República, tentando obstar a posse do capitão-tenente Duarte Huert de Bacelar Pinto Guedes no governo estadual
Pertencera ao Partido Democrata. Bravo e enérgico, Cabralzinho encarnava bem os idéias de todos os habitantes brasileiros da região contestada.
Experiente e lúcido, servido da causa, que era mais da coletividade do que sua própria.
O Dr. Manuel Gonçalves Tocantins era engenheiro, com larga experiência, conhecedor dos problemas econômicos da gleba que defendia.
Estudioso da geografia, conhecia os segredos da terra e de seus acidentes geográficos, de seus rios e de suas montanhas.
O Cônego Domingo Maltez trazia para o Triunvirato as qualidades de sacerdote e guia espiritual daquela gente. Era a Igreja presente à grande causa, que tanto gritava as almas e fazia vibrar os corações. Esse Triunvirato não poderia falhar.

* PRINCIPAIS MEDIDAS DO TRIUNVIRATO
O exército do Amapá, muito embora já estivesse organizado há muito tempo, necessitava ampliar o seu efetivo.
Desde 1894, com a primeira investidura do triunvirato, esse exército fora legalmente constituído, através do Decreto n.º2, de 27 de dezembro daquele ano, nos seguintes termos:
O Triunvirato do Amapá, eleito pelo povo, decreta o seguinte:
1º – Fica criado um Exército de Infantaria, defensor do Amapá, composto de quatro batalhões, tendo cada batalhão quatro companhias.
2º – É nomeado General Comandante Geral do Exército o Sr. Francisco Xavier da Veiga Cabral.
3º – São nomeados oficiais: (seguiam-se os nomes toda a numerosa oficialidade).
Instituído o cartório de Registro Civil, pelo Decreto n.º8 de fevereiro de 1895, tornou-se obrigatória a inscrição dos nascimentos e falecimentos. Foi uma legislação pioneira. Os infratores ficavam sujeitos à multa de cinco mil réis ou prisão por três dias. Cada registro custava 1.000 réis, quando de nascimento; e quinhentos réis, o de óbito. As certidões davam direito a custas de mil réis.

* O ATAQUE FRÂNCES E A REAÇÃO DE CABRALZINHO

MORTE DE LUNIER · 15 de maio de 1895

A Vila do Amapá amanhecera iluminada por um sol radioso, que dourava as fachadas das modestas casas.
Cabralzinho guardava em sua residência uma bandeira francesa, que empreendera das mãos de Trajano por ocasião de sua prisão. Era desejo de Veiga Cabral, caso os franceses a pleiteassem amistosamente, de devolver o pavilhão. Mas ao que tudo indicava os propósitos não eram esses. Charvein manifestava-se indócil. Mandara dias antes à Vila do Amapá a canhoneira Bengali, aproveitando oportunidade em que Veiga Cabral se encontrava ausente, em curta viagem a Belém. Ao regressar foi informado de que os franceses haviam levantado mapas da vila e da foz do Amapá, assinalando nos troncos das árvores o nível da maré, prometendo ainda regressarem a fim de libertarem Trajano. Tais fatos ocorreram Duarte o mês de abril de 1895.
Quando Cabralzinho regressou de Belém teve logo ciência do que sucedera. Mandou então que se cortasse todas as árvores em que os franceses haviam marcado o nível da maré. Eliminava dessa forma um elemento valioso para os futuros assaltantes, que ficariam impossibilitados de penetrar tranqüilamente no rio com embarcações de grande porte.
Os brasileiros e portugueses ali estabelecidos sentiam que algo de extraordinário estava para acontecer. Pairava no ar um nervosismo contagiante. Alguns se muniam de armas. Cabralzinho a todos incentivara. Era o “chefe”, o comandante do exército do Amapá, a maior autoridade, sua força moral impunha respeito e admiração.
Dias antes Cabralzinho penetra pela floresta numa distância de oitenta léguas, chamado, altas horas, para atender uma criança doente. Por toda a noite permaneceu ao lado do leito da pequena enferma.
Pelas oito horas da manhã, bate à porta de Cabral um amigo seu de sobrenome Batista, fazendeiro na região.
– Cabralzinho! Cabralzinho! Os franceses! Estão no Encruzo!
Pancadas na porta acompanhavam as palavras nervosas do visitante. Veiga Cabral, ainda exausto da noite mal dormida, levanta-se e atende ao amigo.
– Que há Batista? Que deseja de mim?
– Vim avisa-lo. Há um navio de guerra no porto. Muitos marinheiros armados sob o comando de oficiais. Vêm libertar Trajano.
Como poderiam os franceses atingir o porto, subindo o rio, se as árvores haviam sido cortadas? Haviam aprisionado o prático Evaristo Raimundo, forçando-o a orientar a entrada do barco motorizado, com grandes escalares a reboque, em que transportavam os soldados armados. A canhoneira Bengali ficara na foz.
Mande arvorar a Bandeira brasileira na Escola Pública. E no mastro do porto a Bandeira de quarentena!
Foi a ordem de Veiga Cabral.
Na sua própria casa hasteou o pavilhão brasileiro. E assim aguardava a investida dos invasores.
Começaram a surgir amigos de todos os lados, solidários com o chefe. A possibilidade de uma resistência a todos aproximava e unia. Foram distribuídas armas e munições.
Manoel Alves Branco, português da ilha da Madeira, comerciante local, mandou hastear a Bandeira brasileira em frente à sua casa.
Houve um movimento geral de solidariedade.
Mais alguns minutos e surgem, á vista de todos, cerca de oitenta soldados franceses. Vinha à frente o capitão Lunier, tendo ao seu lado um porta-bandeira e um corneteiro. Trazia, desfraldada, uma bandeira francesa.
Acompanhava-os, prisioneiro, um velho pescador, conhecido pela alcunha de Chambica, com a finalidade de identificar, para os assaltantes, a Francisco Xavier da Veiga Cabral.
A mais de cem metros Lunier manda fazer “alto” e distribui a tropa em pontos estratégicos. Depois avança á frente de vinte e um homens armados, em direção de Veiga Cabral que, à porta de sua residência, aguardava o invasor. Cabral, porém, não esperou pelos franceses, moveu-se em sua direção,calmamente, com um cigarro nos lábios, pronto para indagar o que desejavam tão aguerridos visitantes.
Ao aproximar-se de Lunier recebe deste violenta interpelação.
Por três vezes Lunier interpela Cabralzinho indagando se este se considerava o Governador do Amapá.
– Sois o governador do Amapá?
– Sim, responde Cabral. Sou o Governador do Amapá.
O capitão francês dá voz de prisão a Cabral. Ordena aos seus soldados que o prendam, depois de aplicar-lhe forte empurrão, puxando-o pelo braço esquerdo.
Cabral responde;
– Um brasileiro não se rende a bandidos!
Cabral desatende à intimação do militar gaulês. Nada fizera que pudesse merecer a prisão. Por que ser preso por tropas estrangeiras? Nunca se submeteria a tal humilhação.
Imediatamente o capitão Lunier dá novo violento empurrão em Cabralzinho e ordena à tropa: fogo!
Os soldados franceses obedeceram. O estampido de vinte e um tiros corta os ares em direção do heróico brasileiro. Cabral só tem tempo de rapidamente jogar-se ao solo, enquanto as balas passavam sobre a sua cabeça, indo cravar-se nas paredes da casa.
Lunier saca do revólver e tenta apontá-lo em direção de Cabral, que com extrema agilidade se lança sobre o oficial francês, aplicando-lhe o que na gíria brasileira se chama de “capoeira” e projeta-o ao solo. Sem tempo para oferecer reação o francês cai. Cabral arrebata-lhe o revólver das mãos.
Levanta-se Lunier e ordena pela segunda vez: – fogo!
Novos tiros ecoam. Cabral novamente se abaixa e as balas não o atingem. A essa altura numerosos brasileiros surgem, a fim de socorrer o agredido. Alguns vêm armados, outros sem armas, impedidos pela solidariedade humana.
Cabralzinho, com o próprio revólver do oficial francês, abate-o quase à queima roupa. Cai por terra o oficial mortalmente ferido, o sangue a ensopar-lhe o uniforme multicor. Logo a seguir um tenente francês avança sobre Cabral com o intuito de vingar a morte do capitão. Tem igual sorte. Cabral dispara contra o atacante. Cai por terra o tenente, sem condições para reagir, já nos estertores da morte.
Mortos o capitão e o tenente, avança um sargento francês. Tenta eliminar Veiga Cabral, o qual mais uma vez dispara a arma, ferindo o sargento, que rola pelo chão e dentro de minutos é cadáver. De todos os lados surgem balas. Os brasileiros, já organizados em reação, disparavam das janelas das suas residências, das esquinas, alguns escondidos atrás dos troncos das árvores ou protegidos por trincheiras improvisadas. Fogo de parte a parte. Os atacantes começam a recuar. Apavoram-se ante a morte rápida do comandante, do tenente e do sargento. Descontrolados, sem comando, começam a fugir para todas as direções. Numerosos soldados franceses estão feridos, em vários locais.
Parecia ter passado a fase mais agitada do combate. Os invasores punham-se em debandada. Voltava novamente a calma e a reflexão aos brasileiros, já agora dispostos a toda parte de sacrifícios. Alguns feridos eram socorridos precariamente; outros, mortos, conduzidos por seus familiares, ante o olhar aflito das mulheres e crianças.
Eis porém que surge nova tropa francesa. Cerca de cinqüenta homens armados. Haviam desembarcado no “Cemitério Velho”, local diferente do em que desceram à terra Lunier e seus homens. Obedeciam a plano bem arquitetado e tinham como objetivo atacar pela retaguarda. Comandava-os o tenente Destop.
Cinco feridos brasileiros já haviam sido socorridos. Três, sem munição e sem condições para reagir, refugiaram-se na mata.
Antes que os franceses se aproximassem, Cabralzinho e os seus homens começaram a oferecer resistência, disputando as suas armas, entrincheirados. Alguns franceses rolavam por terra. Outros se abrigavam e respondiam com os estampidos de suas armas de guerra. O combate, que começara pela manhã, se prolongou até às duas horas da tarde. Acabavam as munições depois de tantas horas de fogo. Não havia mais elementos para reagir. A superioridade numérica dos franceses, aliada á técnica militar e ao armamento apropriado,não permitiam que se prosseguisse no combate.
Esgotaram-se as reservas. Não havia outro caminho senão refugiarem-se no mato, última fortaleza que a natureza lhes oferecia dadivosa.
O porta-bandeira francês Etienne avança afoitamente em direção de Cabral, mais ágil, dá-lhe um tiro à queima-roupa no rosto. O francês cai por terra. Cabralzinho arranca-lhe das mãos a bandeira, à qual tentava se abraçar, toma-lhe o revólver, que empunhava na mão direita e pisando sobre o peito da vítima, puxa-lhe a espada que mantinha na bainha, presa ao cinto. Com os três troféus Cabral recolhe-lhe a sua casa, disposto a prosseguir na luta, enquanto houvesse munição.
Correm as horas, ainda não estava decidida a peleja. A falta de recursos bélicos, no entanto, militava contra os brasileiros.
Cabralzinho e seus homens, pouco a pouco, foram abandonados a praça e se refugiando a praça e se refugiando na mata, que, ali perto, envolvia a pequena vila. Os franceses não estavam em condições de penetrar na floresta, sob pena de serem mortos de emboscada pelos nacionais, peritos em devassar a selva
Ao tentar penetrar na mata avistou um negro, marinheiro, integrante da tropa francesa, que pouco antes havia assassinado uma menina de doze anos de idade, chamada Joana. Matou-o Cabralzinho. A perversidade do marinheiro teve logo a justa recompensa. Outro marinheiro francês, responsável pela morte a tiros do prático Pedro Chaves, foi também alvejado e morto por Veiga Cabral, que rapidamente se asilou na floresta espessa.
Etienne, o porta-bandeira, embora gravemente ferido no rosto, não morrera. Consegue levantar-se, o rosto em sangue, a farda multicor manchada de rubro, aproxima-se dos seus companheiros de armas a fim de estancar o sangue. A hemorragia começa a diminuir.
Ardendo em ódio ordena a alguns franceses que toquem fogo nas casas, saqueiem o comércio e mantém indistintamente os brasileiros.
Na casa de Manoel Branco tremulava a bandeira brasileira. Os soldados franceses cortam o mastro, que desaba e rasgam a bandeira. Invadem a residência de Manoel, que, sem condições para enfrentar tantos soldados armados, é logo preso e amarrado. Prendem também a João Lopes.
Em breve começam as invasões e saques em outras casas. Velhos, mulheres e crianças são mortos, as habitações invadidas, devastadas, as pequenas casas de comércio têm as suas portas arrombadas e são queimadas.
Começa a crepitar o fogo. As labaredas sobem para o alto.
Desidério Coelho, Epifânio Pedro da Luz e Félix de tal, entrincheirados na Escola, atiraram sobre os franceses até o último cartucho. Terminada a munição, embrenharam-se também na mata, onde já se encontrava Cabralzinho.
Trinta e oito brasileiros foram mortos. Vinte e dois feridos, alguns com certa gravidade. Dois prisioneiros: Manoel Gomes e João Lopes.
Profundamente abatidos, foram os dois presos, com os braços amarrados e assim conduzidos, violentamente seviciados pelos franceses.
Levavam também os franceses seus seis mortos e vinte e dois feridos.
A noite descia lentamente sobre a terra assolada. A maré baixava e os franceses sabiam da necessidade de partir antes de ser atingida a baixa-mar. Noite negra e sinistra. A pouco a pouco os que se haviam embrenhado na mata começam a surgir. Era preciso enterrar os mortos. Tentavam apagar o incêndio. Muitas casas inutilizadas, irrecuperáveis, o fogo a expelir chamas para o alto, soprados pelo vento.
Foi improvisado um hospital. Vinte e dois feridos recebiam os cuidados médicos, precários embora, naquela região remota e abandonada.
Noite negra e silenciosa. Trinta e oito sepultamentos se fazem à luz dos archotes, no pequeno cemitério local. É um cortejo lúgubre e sinistro. As crianças, mal dormidas, os olhos abertos de espanto, choram pelos pais, pelas mães, pelas irmãs e irmãos mortos em defesa da sua terra. Cavou-se extensa vala para receber os trinta e oito corpos.
O clarão que se irradia das casas incendiadas serve de fundo àquela cena dantesca.
Ninguém pôde dormir. As fronteiras estavam banhada de sangue. Toda a imprensa mundial passou a narrar os fatos em cores vivas e com altos protestos.
Veiga Cabral é reconhecido pelo governo brasileiro como herói nacional, concedendo-lhe o presidente da República o título de “general honorário”do Exército Brasileiro.

 

Estado do Amapá – Índios do Amapá

Amapá é o primeiro estado brasileiro a ter todas as terras indígenas demarcadas. Nas duas grandes reservas, que representam 8,6% de todo o território estadual, 140.276 km² , vivem as etnias – Galibi, Karipuna, Palikur, Waiapi e Galibi Marworno.
Esses índios não vivem isolados. Recebem todo tipo de apoio governamental: da assistência saúde à orientação para melhorar a qualidade de vida através de novas alternativas econômicas.
Essas sociedades indígenas recebem todo tipo de apoio governamental: da assistência saúde à orientação para melhorar a qualidade de vida através de novas alternativas econômicas.
No entanto, o respeito aos índios vem em primeiro lugar. Em nenhum momento essa parceria pode interferir na cultura diferenciada das etnias. O melhor exemplo desse compromisso é o apoio dado a escola bilíngue, na qual as crianças aprendem primeiro sua língua original, condição mais importante para manter viva a tradição indígena com seus mitos, lendas, arte e costumes.

A luta dos índios para garantir a terra em que vivem e defender a sua cultura tem chamado a atenção de Ongs, governos estrangeiros com o alemão e o apoio de personalidades como Danielle Miterrand. A viúva do ex-presidente François Miterrand e presidente da Fundação France Libertés visitou o Amapá em abril de 1996. Além de oferecer apoio político, ela condenou duramente o decreto do governo federal que permite contestação no processo de demarcação de terras indígenas.
A palavra Galibi designava os índios que viviam no litoral da Guiana francesa. Hoje são encontrados no Amapá em apenas 3 aldeias. A língua original, Karib, foi substituída pelo patoá, francês creolo da Guiana e o português, falado pela maioria dos homens adultos.
Assim como os Palikur, os Galibi também escolhem o chefe da aldeia por eleição direta. Vivem da agricultura cujo principal produto é a mandioca brava, caça, pesca e comercializam o excedente. Possuem também uma pequena indústria de construção naval que produz pequenos barcos para toda a região.
O governo do Estado proporciona assistência na área, infra estrutura e mantém ainda escola bilíngue nas aldeias.
Essa sociedade vivia originalmente na Guiana Francesa e sua principal característica é o instinto guerreiro. No século XVII, lutaram muito contra os índios Palikur e os franceses.
No século XVIII, com a chegada dos jesuítas, formaram o maior grupo das missões. Quando os padres foram expulsos, eles se dispersaram.
No Brasil mora apenas um grupo, que chegou ao país em 1950. Vivem da caça e da pesca e, como fonte de recurso, comercializam produtos agrícolas.
Todas as aldeias têm escolas administradas pelo governo do Estado. Possuem também uma pequena indústria de construção naval que produz barcos para toda a região.
Próxima á reserva fica Oiapoque. Esta cidade, situada no ponto mais extremo do Brasil, é a primeira da país a eleger um prefeito índio.
A história dessa comunidade é marcada por uma constante migração. Ora ocupavam a bacia de Uaça sua área de origem, ora se mudavam para a Guiana Francesa. Só no final da década de 80, com a demarcação da reserva e a expulsão dos não-índios, é que a população começou a se fixar. Duas aldeias ocupam essa área: a Juminã, com remanescentes dos índios Karipuna e Uahá, índios Galibi-Marworno.


Os índios Karipuna se consideram católicos mas não abrem mão das festas religiosas tradicionais. O “Turé”, por exemplo, tem ritos essencialmente indígenas que inclui danças e cantos na língua maruane. Comercializam produtos agrícolas como cítricos, café, inhame, banana e cana. A caça e a pesca são utlizados exclusivamente para o consumo local. A migração tem aumentado por causa do crescimento da população. No entanto, os homens ficam fora apenas por alguns períodos, enquanto as mulheres raramente retornam às aldeias.
Os Palikur têm uma miscigenação rara entre os índios. Entre 1930 e 1940, chegaram à aldeia famílias negras vindas da Guiana Francesa e seus descendentes assumem a identidade da tribo. Mesmo com esse contato, os índios mantém a tradição de se organizar em clãs formados a partir da linhagem paterna. Dessa forma, os filhos de pais não mestiços são aceitos pela comunidade mas não
podem pertencer a nenhum clã.
Os Palikur estão localizados no Estado do Amapá e na Guiana Francesa, no Amapá eles habitam ao longo do rio Urukaua, situado na bacia do rio Uaca, na região do município do Oiapoque; na Guiana Francesa eles habitam em bairros nas cidades de Caiena e Saint Georges e as margens do rio Oiapoque. Dentre as tres etnias que habitam ao longo da bacia do Uacá – Galibi-Marworno, Karipuna e Palikur -, os Palikur são os únicos procedentes da própria região e também são os únicos que mantiveram sua língua original. Esta etnia é mencionada nos relatos históricos desde 1513.
Durante mais de três séculos, os povos indígenas da região do norte do Amapá mantiveram intensas trocas com os comerciantes franceses a ponto de despertar a preocupação da coroa portuguesa, que passou a exercer uma caça sem tréguas aos índios identificados como aliados franceses. Neste contexto, os Palikur, apesar de considerados “amis de francois”, são das poucas etnias, das diversas que existiam na região, que conseguem sobreviver a perseguição empreendida pelos portugueses.
Atualmente, os Palikur são, em sua maioria, crentes. Foram evangelizados por missionários protestantes no final da década de 40 e por conta da religião cristã não realizam mais suas festas tradicionais, como a festa de Ture e do Tambor. Assim como os outros povos indígenas do Uaca, os Palikur vivem da caça, pesca e da comercialização da farinha nas cidades do Oiapoque, Caiena e Saint George.
Para fugir da catequização dos jesuítas os índios Waiapi, no século XVII, abandonaram sua área de origem, baixo Xingu no estado do Pará, e ocuparam o ponto mais extremo do Brasil, entre os rios Oiapoque, Jari e Amapari. Os Waiapi quase foram extintos no começo do século por causa do
contato com os extrativistas como os seringueiros. Na década de 70 enfrentaram o mesmo problema com os garimpeiros que invadiram a área, a partir da recém-chegada Rodovia Perimetral Norte. Nos anos 80, os Waiapi conseguiram expulsar os invasores e, desde então, mantêm constante
vigilância nos limites de sua terra. Nesse período assumiram a faiscação de ouro aluvionar, uma atividade que eles realizam dentro do seu ciclo tradicional de atividades extrativistas e que atende a algumas de suas necessidades (armamento, tecidos, redes). Nos garimpos controlados pelos índios, não se usa mercúrio e as áreas trabalhadas são convertidas em plantações de frutíferas. Além disso, os waiapi estão na agro-silvicultura em alguns trechos das picadas da demarcação . Hoje, eles são
488, distribuídos em 12 aldeias. A área foi demarcada e homologada em 1996, numa experiência piloto do PPG7 que priorizou a participação dos índios e sua capacitação para o controle permanente desta terra. A experiência foi coordenada por uma ONG e financiada pelo governo alemão.
Cada aldeia indígena tem um padrão estético que se reproduz nos objetos utilitários como cestas, redes, adornos e armas.
Feitos com madeira, fibras, cerâmica, sementes, plumagem, dentes e ossos de animais, Alguns desses objetos são enfeitados com penas de aves ou pintados com corantes naturais extraídos de cascas de árvores ou sementes como as do urucum.
O artesanato é uma das fontes de renda dos povos indígenas do Amapá. Os Karipuna, por exemplo, fabricam colares de contas ou ossos. Os Waiapi usam desenhos mitológicos para explicar suas origens. Os Apalai do norte do Pará fazem complexos desenhos geométricos com significados conhecidos apenas pelo grupo.

Estado do Amapá – Artista amapaense é premiado pela União Nacional dos Artistas Plásticos

O artista plástico Raimundo Pantaleão participou do XXXIII Salão Alberto Santos Dumont, que premia os melhores artistas de todo o Brasil e trouxe dois troféus para o Estado.

O artista plástico Raimundo Pantaleão Gurjão, conhecido como Pantaleão, participou do XXXIII Salão Alberto Santos Dumont, evento realizado pela União Nacional dos Artistas Plásticos (Unap), no período de 10 a 17 de agosto de 2008, em São Paulo, e foi premiado entre os melhores artistas do Brasil.

Segundo Pantaleão, a indicação surgiu devido a três de suas obras terem sido catalogadas no Anuário de Artistas Plásticos do Brasil, onde ficaram expostas durante três meses, no Museu de Artes de São Paulo (Masp), que tem visibilidade nacional e internacional e, assim, foram percebidas pela Unap. Além disso, o artista teve uma de suas obras vendidas ao Senador José Sarney.

“Fui a São Paulo para receber a Medalha de Mérito Artístico e Cultural pelos serviços prestados à Arte Nacional Brasileira e tive uma surpresa, duas de minhas obras que participavam do Salão foram premiadas. Uma escultura intitulada Cochicho, com estrutura de madeira, pigmentos minerais e tinta acrílica, foi premiada com o Troféu de Bronze; a outra, Carregadores de Açaí, foi premiada com a Palheta de Prata. Fui o único artista da Amazônia a participar do evento e o mais premiado do Salão”, disse Raimundo Pantaleão.

As obras foram avaliadas pela Comissão Organizadora do Salão, composta por cinco pessoas. De acordo com o artista sua inspiração vem da realidade amapaense e em suas obras mostra o cotidiano do povo. Parte dessa inspiração foi vivenciada na infância, na adolescência e na maturidade. Graduado em Artes Plásticas, em sua conclusão de curso, defendeu o tema ‘Cerâmica Rústica e Utilitária do Maruanum’, comunidade quilombola a qual homenageia e onde o Sebrae vem trabalhando questões antropológica e social.

Estado do Amapá – Igreja de São José de Macapá

A origem da igreja está ligada à origem da própria Vila de São José de Macapá, fundada pelo então governador da capitania do Grão-Pará, FRANCISCO XAVIER DE MENDONÇA FURTADO, em 1785. Estabelecida a Vila, ao mesmo tempo foi criada a paróquia do mesmo nome, pelo bispo FREI MIGUEL DE BULHÕES e lançada sua pedra fundamental, pelo primeiro vigário da paróquia Pe. ANGELO DE MORAIS.
As plantas da igreja foram trançadas pelo sargento-mor MANOEL PEREIRA DE ABREU e aprovadas pelo engenheiro ANTONIO JOSÉ LANDI, que acompanhava o governador da capitania, em seus trabalhos de demarcação do espaço português, na região.
A inauguração da igreja foi em 06 de março de 1761 e sua construção é um exemplo do estilo de arquitetura que os jesuítas trouxeram da Europa, ainda no século XVI. Algumas modificações, na estrutura do prédio, foram realizadas após a chegada dos padres do PIME, em 1948.
A localização da igreja está no que seus antigos moradores chamam de “beco do formigueiro”, pois, na época em que Macapá era apenas um povoado, lá existia um imenso formigueiro. Joke, o beco do formigueiro, chama-se passagem Barão do rio branco.